Direito humano

O Brasil tem 8.514.876 km2. Trata-se do quinto maior país do planeta – só é menor que os territórios da Rússia, Canadá, China e Estados Unidos, respectivamente. Sua imensa área corresponde a aproximadamente 1,6% de toda a superfície do planeta, ocupando 5,6% de todas as suas terras emersas, 20,8% de todo o continente americano e 48% da América do Sul. Trata-se, realmente, de um país muito grande. Espaço é algo que decididamente não falta aqui.

Não faz muito tempo soube que um nosso conterrâneo morreu a caminho do hospital – aliás, morreu tentando sair da garagem do seu prédio, que havia sido bloqueada por conta de uma festa popular. Calculo que ele esteja perambulando pelas paragens celestiais meditando sobre o quão grande é o Brasil!

Quem também faleceu foi uma idosa senhora, internada em um hospital situado em pleno centro de uma grande cidade. Soube do testemunho de um seu familiar, que a acompanhava, dando conta do suplício imposto durante aquela que seria sua derradeira noite: decidiram fazer uma procissão, partindo da pracinha em frente ao raiar do dia, e assim, durante toda a noite, praticamente a cada quinze minutos, estouravam rojões, roubando aos doentes um repouso já naturalmente difícil. Fico a pensar naquela senhora, vagando pelo além, refletindo sobre a imensidão deste país!

Soube de outra morte: a de um senhor que faleceu por conta de um congestionamento de trânsito. Aconteceu assim: ele passou mal, chamaram uma ambulância, e esta só conseguiu chegar ao local uns 40 minutos depois, por conta de as ruas da região estarem quase todas bloqueadas para uma festa. Imagino-o lá do céu contemplando este país e sua imensidão territorial.

Falei tanto de morte porque outras agressões ao direito à paz, à segurança e a um ambiente digno sequer tem merecido consideração quando do planejamento da esmagadora maioria dos eventos públicos. Que a morte, pelo menos, cause alguma sensibilização! Ao menos ela!

Diante de todos estes casos, de conhecimento amplo, impõe-se uma reflexão: por qual motivo, afinal, a esmagadora maioria dos eventos públicos realizados neste país tão grande acontecem em lugares espremidos por prédios residenciais e com bloqueio de vias essenciais à saúde e segurança, violando direitos humanos os mais básicos de todos que ali residem?

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