Nossas contas

Dia desses meditava sobre o maior patrimônio que um povo pode ter: as condições para simplesmente pensar, refletir calmamente sobre a realidade do ambiente que o cerca. Eis aí, arrisco dizer, o ponto de partida para a identificação dos problemas – pessoais e nacionais – e suas respectivas soluções.

Oprimido por uma realidade cruel, atordoado pelas contínuas mudanças de regras e condições, o povo brasileiro vive em estado de perplexidade – e passa a, não mais pensando com serenidade, firmar conceitos sobre opiniões, antes que sobre dados. Tais opiniões, não raramente contaminadas por circunstâncias ou interesses, acabam induzindo uma incorreta compreensão dos problemas da vida e de suas causas.

É quando, nas próximas linhas, fugindo a debates ideológicos e “achismos”, lançarei simplesmente números. Sairá deles, e de sua frieza, um bom substrato para o diagnóstico de nossa tão doente realidade.

Em 2015, o pagamento de juros da dívida pública consumiu US$ 135,25 bilhões, ou 8% do nosso PIB. Para fins de comparação, o Bolsa-Família custou US$ 8,1 bilhões. Em 2016, 42,04% de tudo o que o Brasil produziu foi transferido para o sistema financeiro, 4,11% para a saúde pública e 3,49% para a educação.

Ao mesmo tempo, calculou-se que perdemos, com a evasão de tributos, US$ 245 bilhões – e outros US$ 22 bilhões com a corrupção. Enquanto isso, recentemente o Tribunal de Contas da União apontou irregularidades em 80% das obras fiscalizadas. Segundo o FMI, se somente a corrupção fosse reduzida a renda “per capita” do país subiria US$ 3 mil.

O Brasil perde US$ 39 bilhões por ano em função de sua péssima infraestrutura. Nosso país precisa de mais 6,3 milhões de moradias, 17% da população não tem acesso a água tratada e 48% não tem esgoto tratado. Nossas escolas: 11 mil delas não tem energia e 60 mil não possuem rede de água. Apenas 29% das rodovias brasileiras são consideradas boas. Nossos trens andam – eu disse andam? – a 10 km/h em média. Calculou-se que precisaríamos investir US$ 257 bilhões – o que pagamos somente em juros em apenas dois anos – para termos uma economia competitiva.

Estes são apenas alguns números. Quais deles tem ocupado as mentes dos brasileiros? E quantos outros estarão por aí, perdidos, distantes dos olhos e das mentes do nosso tão perplexo povo?

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