O peixe-palhaço

Dia desses fiquei a meditar sobre o peixe-palhaço – não, porém, tendo em mente aquele simpático espécime imortalizado pelo filme “Procurando Nemo”. Minha reflexão, na verdade, era mais sombria. Buscava uma relação entre peixes e palhaços.

Explico: li que o Procurador-Geral de Nova York, nos EUA, percorreu nada menos que 155 supermercados pelo estado afora comprando peixes. Todos eles foram imediatamente enviados para um laboratório, a fim de que se apurasse se correspondiam ao anunciado em suas respectivas embalagens.

Os resultados obtidos retratam um escândalo! Comecemos pelos salmões: 28% deles, apesar de rotulados como “selvagens” e vendidos por preços em média 30% mais altos, eram de fato oriundos de criadouros. A vítima seguinte foi a popular cioba – na verdade, em 67% dos casos, um peixe parecido e mais barato, além de contaminado com mercúrio. Não nos esqueçamos do linguado: em 88% das amostras estava não o famoso ingrediente de saborosas iguarias, mas um peixe barato criado em cativeiro.

Constatou-se, assim, que dois terços dos supermercados daquele estado praticam fraude contra o consumidor. Especificamente na cidade de Nova York, inacreditáveis 43% dos rótulos não correspondiam à verdade! O melhor desempenho – eu disse o melhor? – ficou por conta de Westchester, com índice de fraudes de 32%.

Nos idos de 2013 uma entidade de proteção dos oceanos, de nome Oceana, teve idéia similar: recolheu 1.215 amostras de atum pelos EUA afora, submetendo-as a testes de laboratório. O resultado foi um horror: 59% dos atuns simplesmente não eram atuns! No caso do atum branco, 84% deles foram substituídos por um peixe barato, conhecido por causar problemas gastrointestinais.

Veja bem: estamos a falar dos EUA, mundialmente famosos pelo rigor de suas leis. Fico a pensar nos peixes oriundos de paragens notoriamente menos, digamos assim, exigentes. Chego a ter calafrios ao imaginar os resultados de pesquisa idêntica nestes locais tão abandonados.

Pois é. Não faz muito tempo, li que o Brasil importa mais de um terço do pescado que consome – afinal, só temos uns 8.500 km de litoral e o pequeno rio Amazonas, além de mais alguns poucos riachos. Assim, diante do precedente norte-americano, seria interessante apurarmos se por aqui há algum palhaço, digo, peixe-palhaço.

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