Nossas raízes

Dia desses, lendo o respeitado periódico “Diário de Notícias”, de Portugal, deparei-me com um interessante texto sobre o nosso querido Brasil. Registrou-se, inicialmente, que quem aqui chega logo percebe “traços de Portugal em todo o lado, da língua, claro, à religião mais professada, da arquitetura do centro das cidades ao essencial da gastronomia, e até em sensações, instintos, quase pressentimentos, que denunciam a história e o sangue comuns”.

Adverte-se, porém, em seguida, que “quem mora no Brasil, o que é diferente de visitá-lo, entende que o modelo do gigante sul-americano é o gigante norte-americano Estados Unidos. Já não é Portugal, que perdeu ascendente gradual sobre a ex-colônia ano após ano dos últimos 200 e é tantas vezes visto com preconceito (o inverso também é verdade); nem a herança indígena, nem a África, raiz de tanta coisa; nem Itália, Líbano, Alemanha ou Japão, de onde vieram hordas de emigrantes”.

Prossegue o texto: “O Brasil bebeu de todas essas culturas mas construiu a sua própria. E construiu-a à imagem e semelhança dos endeusados Estados Unidos. Uma cultura baseada na juventude, na velocidade, na emoção e no consumo – muito consumo. É assim na política ou na religião. Uma campanha presidencial americana ou brasileira é um acontecimento colossal, teatral e caro como são colossais, teatrais e caras as reuniões da imensidão de cultos alternativos nos dois países”.

Sobre o sistema legal: “os suspeitos de um crime, antes mesmo de serem julgados por um juiz, são condenados entre dois intervalos publicitários da TV, de algemas na mão, por milhões de telespectadores”.

Um alerta: “No entanto, os Estados Unidos, apesar de todas as suas inúmeras faltas, são produtivos. E ricos. E poderosos. O Brasil adoraria ser as três coisas – diz-se que um pobre no Brasil quer ser da classe média, um da classe média quer ser rico, um rico quer ser milionário e um milionário quer ser americano – mas não é”.

E a surpreendente conclusão sobre o nosso povo: “é, no entanto, feliz – eis a sua riqueza e o seu poder. Na saúde ou na doença, a felicidade no Brasil é obrigação, necessidade, compulsão, vício. E antídoto contra todas as injustiças e desgraças diárias”.

Sem dúvida, eis aí uma análise curiosa, vinda da terra dos nossos colonizadores. Será que procede?

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