O planeta é mesmo de todos nós?

Há alguns dias tive a oportunidade de ler um fascinante relatório da Organização das Nações Unidas sobre o estado do nosso planeta e as perspectivas de futuro que se nos apresentam.

Li, neste relatório, que a degradação do solo já atinge incríveis 40% da superfície do planeta. A agricultura praticada a cada dia de forma mais intensa já começa a se deparar com a perda de produtividade do solo – uma queda que pode chegar a 50% a médio prazo. Este já era um quadro esperado – afinal, nos últimos 50 anos a produção agrícola praticamente dobrou, porém utilizando apenas 10% a mais de solo.

Aliás, sobre agricultura, transcrevo um parágrafo revelador: “responde por 70% a 85% do uso da água, e um aumento estimado de 20% na produção global de grãos tornará o seu uso insustentável”.

Segundo este relatório, já está em marcha um acelerado processo de desertificação – que, hoje, atinge regiões habitadas por um terço da população mundial. Isto afetará 1,3 bilhão de pessoas que dependem da agricultura, pesca, caça e florestas para sobreviver.

A consequência seguinte será o aumento dos preços dos alimentos, em um patamar estimado pelos pesquisadores em torno de 30% a 50% nas próximas décadas.    Será por conta disso tudo que nos países em desenvolvimento seis a cada dez pessoas sofrerão de forma muito intensa as agruras deste quadro que se descortina.

A propósito, não nos esqueçamos dos desastres naturais – furacões, inundações, enchentes, tsunamis e outros de igual teor destrutivo. Entre 1980 e 1985, eles eram apenas 132 por ano. E eis que entre 2005 e 2009 pularam para 357.

Tradução: a situação é séria. Muito séria. Séria demais para ser ignorada. Enquanto isso, prossegue o relatório, “há mais de 900 carros por grupo de mil habitantes em idade de dirigir nos Estados Unidos e mais de 600 na Europa Ocidental, contra menos de dez na Índia. O consumo de água “per capita” nos países desenvolvidos chega a 425 litros diários, umas seis vezes maior que o dos países em desenvolvimento, cuja média é de 67 litros”.

Este surpreendente relatório trouxe outra informação: “com apenas um sexto da população mundial, países altamente desenvolvidos foram responsáveis por quase dois terços (64%) das emissões de dióxido de carbono entre 1850 e 2005. Desde 1850 cerca de 30% do total acumulado de emissões vieram dos Estados Unidos. Na sequência estão China (9%), a Federação Russa (8%) e Alemanha (7%)”.

Seria de se esperar que, diante de um quadro desses, a parcela mais rica da humanidade estivesse fazendo a sua parte. Mas qual o que! Transcrevo um outro parágrafo, profundamente instigador: “A necessidade de investimentos [para reverter e prevenir dados ambientais] é imensa, mas não superam os atuais gastos com outras áreas, como a militar. Os investimentos anuais para se promover o acesso universal a formas mais modernas de energia são menos de 1/8 do que se gasta em subsídios para o uso de combustíveis fósseis”.

Este relatório alerta, assim, para o fato de que “estamos brincando jogos com nosso planeta”, no qual “alguns indivíduos colhem os benefícios enquanto a sociedade arca com os custos”.

Deve ser verdade, conforme li em outra página deste relatório: “Em suma, os países mais pobres suportarão muitos dos custos das mudanças de clima, e a perspectiva de piora dos índices de desigualdade é muito real”. É isso aí. Afinal, como exclamou Bernard Shaw, o maior dos males e o pior dos crimes é a pobreza”.

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