Os loucos e os desesperados

Dia desses, passando os olhos por um jornal lá no Reino Unido, encontrei uma relação de chamadas estranhas feitas para o serviço de emergência da polícia daquele país digna de ter sido feita a partir de qualquer nosocômio.

Vamos começar pela mulher que pediu auxílio policial para localizar sua dentadura, perdida no jardim – ela havia jogado um copo de água em dois cachorros que nele latiam, esquecendo que a dita cuja estava lá dentro. Uma outra senhora, não menos desesperada, telefonou para relatar que havia uma pequena aranha sob seu travesseiro. E uma terceira para reclamar que um esquilo invadira seu quintal.

Um dedicado pai, por sua vez, telefonou para comunicar que o tênis de seu filho estava perdido – solicitou, assim, a ajuda da lei para localizá-los o quanto antes, pois havia um jogo de futebol marcado para aquela tarde. Há também o caso da mulher que telefonou aos gritos relatando que seu telefone celular caíra no vaso sanitário.

Uma outra senhora pediu a ajuda dos agentes da lei para fechar uma das janelas de sua casa. E um senhor, desesperado, comunicou que o pneu de seu carro furara e pediu a presença de um policial para repará-lo.

Encerrava esta lista o caso da mulher que não conseguia retirar o “cinto de castidade” do marido – uma peça de titânio, um dos metais mais resistentes que existem, digna dos tempos medievais.

Poucos dias depois encontrei uma lista similar feita pela polícia australiana. Narrava-se nela o caso do jovem apaixonado que pediu ajuda para falar mais tempo com sua namorada, pois os créditos de seu celular estavam no fim. Seguia o caso da senhora que considerou ser caso de polícia a dúvida que tinha sobre o tempo ideal de permanência de uma galinha no forno.

Há também os nervosos, claro. Em Portugal um deles telefonou inacreditáveis 6.970 vezes para o serviço de emergência exclusivamente para insultar quem o atendia

Nos Estados Unidos o problema era de relação de consumo – um cidadão telefonou indignado, dizendo-se enganado por um traficante de cocaína que teria cobrado um preço extorsivo (US$ 40) por uma quantidade muito pequena da droga – apenas 0,4 grama.

Ainda naquele país uma senhora acionou os serviços da polícia pedindo ajuda para encontrar um marido. Uma outra, não menos ansiosa, telefonou para protestar sobre a qualidade das asas de galinha que lhe serviram em um restaurante. E uma terceira comunicou aos agentes da lei que ficara sem cigarros em casa, solicitando que alguma viatura próxima resolvesse o problema.

Não nos esqueçamos da motorista norte-americana que contactou o serviço de emergência para relatar que não conseguia sair de seu carro. Indagada sobre se havia alguma falha mecânica ou acidente, respondeu que estava tudo em perfeita ordem – o problema era sua embriaguez!

Enquanto isso o problema de um cidadão lá da Florida era a fome: pediu que algum policial fosse encarregado de levar sanduíches para sua casa. Pior foi um outro, da mesma região, que telefonou solicitando os serviços de prostitutas.

Até as crianças passaram a fazer parte deste horror: um menino norte-americano de apenas dez anos de idade convocou os policiais a ajudá-lo a não ir para a cama dormir, conforme sua pobre mãe havia ordenado.

Falei, até aqui, dos loucos. Mas há também os desesperados – pessoais normais que, precisando de ajuda urgente, encontram as linhas da polícia ocupadas. Que tal pensarmos sobre isso?

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