Preços mais baixos e riqueza maior

Eram dois primos, um rico e o outro pobre. O primo rico chamava-se João Valjão, e morava no Brasil. O pobre tinha o nome de Mauá, e morava nos Estados Unidos da América. Ambos eram representantes comerciais.

Nos EUA, Mauá decidiu comprar um carro. Optou por um Mercedes-Benz C-300 Sport Sedan novinho em folha, pelo qual pagou US$ 32.975 – uns R$ 58.000. No Brasil, João Valjão também comprou um carro para poder trabalhar. Pagou R$ 62.990 por uma Besta usada, ano 2005.

Após comprar o Mercedes-Benz, Mauá pagou R$ 108, lá nos EUA, pelo licenciamento anual. Enquanto isso João Valjão pagou uns R$ 1.100 de IPVA mais uns R$ 100 de emplacamento.

Feliz da vida em seu Mercedes-Benz novo, Mauá foi abastecê-lo. Lá nos Estados Unidos, um país importador de petróleo, ele pagou R$ 1,94 pelo litro da gasolina pura. João Valjão, habitante de um Brasil auto-suficiente em petróleo e que quer exportar tanto a ponto de entrar para a OPEP, pagou R$ 2,94 pelo litro da gasolina misturada com álcool que mais se aproxima da dos EUA.

Mauá concluiu, em seguida, que precisava de um computador portátil. Como era pobre precisou financiar a conpra pelo cartão de crédito, sujeitando-se aos juros dos EUA, a “Meca do Capitalismo Selvagem”, que variam entre 7,99% e 21% ao ano. Sim, ao ano! No Brasil, João Valjão também precisou comprar um computador portátil para atender seus clientes. Sorte que, sendo rico, não precisou financiar – aqui, os juros oscilam entre 11% e 17%, porém ao mês!

Equipados com veículo e computador, Mauá e João Valjão foram à luta! Mauá ia visitar seus clientes rodando em pistas lisas e bem-conservadas. Já João Valjão andava com sua Besta pelas esburacadas ruas brasileiras – difícil a semana em que não estragava um pneu ou danificava algo em seu carro, o qual, por conta disso, mais parecia um trio elétrico de tanto barulho que fazia.

Efetuadas as vendas, como era fácil a vida de Mauá! Em poucos dias os produtos vendidos eram entregues ao comprador em perfeito estado, transportados de trem. Já João Valjão sofria: como o Brasil praticamente não tem ferrovias, as mercadorias que vendia eram entregues de caminhão, e com freqüência não chegavam ou se quebravam no caminho.

Após alguns anos, Mauá, o primo pobre, estava rico e próspero, colhendo os frutos de seu trabalho. Já João Valjão, o primo rico, acabou doente e pobre – ele não resistiu aos freqüentes engarrafamentos causados pelos bloqueios de pistas e estradas, greves, assaltos, impostos elevadíssimos, falta de pontualidade, etc.

Com as boas condições oferecidas nos Estados Unidos, Mauá contribuiu para a riqueza daquele país: movimentou riquezas, gerou empregos e criou oportunidades. Enquanto isso, vítima da imensa falta de consideração do Brasil para com aqueles que trabalham, João Valjão perdeu negócios e deixou de gerar empregos e riquezas.

Eu conheci Mauá e João Valjão, dois representantes comerciais – um deles, a quem batizei de “João Valjão” para preservação da imagem, faleceu não faz muito tempo. Uso-os como exemplo para demonstrar que um país que quer ser grande tem que oferecer aos seus trabalhadores e empresários um mínimo de infra-estrutura e condições justas de competividade.

Tal quadro, resumiu-o com muita sabedoria o saudoso Presidente Tancredo Neves, segundo quem “no Brasil teima-se em maltratar quem produz, gratificar quem especula e estimular quem sonega”.

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