Quando discar 190 pode matar

Dia desses li que um norte-americano foi preso por passar, em apenas 2 dias, 1.100 trotes ao serviço de emergência da Polícia de Gainseville (EUA). Pouco tempo depois o “Daily Yomiuri”, do Japão, noticiou que anualmente os operadores da Polícia daquele país lidam com espantosas 950.000 ligações absurdas.

Assim, em Tokyo uma senhora telefonou para a Polícia e, reclamando de dores nas pernas, solicitou que policiais fossem a alguma farmácia adquirir medicamentos para ela. Em Saitama uma outra avisou que iria viajar e pediu que fosse destacado um policial para alimentar seu cachorro, que ficaria no quintal. Em Gifu uma senhora desembarcou do trem e, reclamando da chuva com a Polícia, solicitou uma viatura para apanhá-la na estação e levá-la em casa. Em Mie um senhor reclamou que a conta de seu telefone celular estava muito alta. Em Kyoto um jovem desiludido implorou aos policiais que convencessem sua ex-namorada a reatar com ele. Em Aomori um senhor solicitou que a Polícia removesse a neve diante da porta de sua casa todos os dias pela manhã, dado que ele sempre saía com pressa para o trabalho. Um cidadão de Osaka pediu a presença de um Policial em seu escritório para registrar a perda de um objeto (ele estava muito ocupado para ir até a Delegacia). E uma senhora de Kouchi, dizendo que havia esquecido uma caixa de isopor na praia, solicitou à Polícia que designasse uma viatura para recolhê-la e entregá-la em sua casa.

Em Aachen, na Alemanha, uma mulher telefonou para a Polícia reclamando que o marido não queria manter relações sexuais com ela. Em Maryland (EUA) um homem telefonou para o serviço de emergência pedindo ajuda para apagar o fogo que consumia sua plantação de maconha. No Tennessee um outro relatou ter brigado com sua esposa e pediu auxílio para que ela parasse de beber cerveja. Na Louisiana uma mulher se queixou ao ter sido proibida por seu marido de assistir o último capítulo de uma novela. Na Califórnia uma outra encomendou pizzas ao serviço de emergência, alegando “fome extrema”, e um homem pediu indicações de um bom restaurante.

Na Nova Zelândia uma senhora comunicou à Polícia que havia rasgado seu vestido, e pediu ajuda para repará-lo. Ainda lá um homem comunicou uma briga de passarinhos em seu quintal, uma mulher pediu conselhos sobre se aceitava uma proposta de casamento e um senhor noticiou que havia uma vaca em sua caixa de correios. Enquanto isso, no Canadá, uma mulher telefonou para a Polícia pedindo que esta enviasse um táxi à sua casa.

E no Brasil? Segundos dados divulgados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, o serviço “190” recebe, em média, 27 mil ligações por dia. Dessas, cerca de 9 mil são trotes – incríveis 30%! Quanto custa isso? Em função dos deslocamentos desnecessários e tempo gasto com recursos humanos, calculou-se o prejuízo em R$ 2 milhões.

No Maranhão noticiou-se que menos de 10% de todas as ligações atendidas pela Polícia envolvem problemas reais. Em Pernambuco apenas 1,5 mil das 16 mil ligações diárias se convertem em ocorrências. As demais são pedidos de informação e brincadeiras.

A propósito, nos Estados Unidos da América a Polícia de Dorchester, lamentando que quase 50% das ligações para o serviço de emergência não sejam “sérias”, alertava a população acerca dos danos que este tipo de conduta causa, por retardar a ação das autoridades.

Enquanto isso, um pedreiro morreu assassinado lá em Curitiba. Ele estava sendo ameaçado por um traficante no meio da rua, seu filho ligou para o “190”, mas as linhas estavam ocupadas e a Polícia apenas conseguiu agir 30 minutos depois – tarde demais…

Diante deste quadro seria bom que cada ser humano se imaginasse no lugar daquelas pessoas que, por falta de assistência no momento correto, perderam a saúde ou até mesmo a vida. Afinal, como ensinava Chamfort, “a consciência é a presença de Deus nos homens”.

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