Quem assusta amigo é

Dia desses encontrei uma curiosa frase atribuída a Nietzsche: “o maior proveito da vida está em viver perigosamente”. Eis aí algo que a humanidade tem observado religiosamente.

Diante desta realidade, simplesmente avisar sobre riscos já não funciona – para desespero das pobres placas de advertência, cada vez mais desmoralizadas. Assim, nestes tempos modernos, aqueles outrora pacatos sinais de aviso começam a dar lugar a outros mais assustadores.

Começo citando uma placa colocada em uma cerca, localizada em Indiana (EUA): “Aviso: quem passar desta cerca será alvejado, agredido, violado, estrangulado, mutilado, chutado, surrado e queimado vivo”. Em seguida, o pacato proprietário do terreno informa que “o que sobrar será atirado aos cachorros”.

Vem também daquele país uma outra placa, colocada próxima ao portão de uma casa, avisando que os “invasores serão enforcados e comunicados de que tem uma bela boca”.

Outros donos de terreno são mais sutis. Assim, um norte-americano colocou na cerca de sua propriedade uma placa com a figura de um cachorro daqueles violentos seguida da consideração “Eu posso correr até o portão em três segundos. Você pode?”

Mas nem só para defender cercas servem estes avisos tenebrosos. Eles já começam a chegar nas filas de emprego. E assim a primeira coisa que os candidatos a trabalhar em uma rede de lanchonetes norte-americana viam era um cartaz com os dizeres: “Quer ganhar US$ 50 mil? Então volte para o colégio, qualifique-se decentemente e saia desta lanchonete”.

Enquanto isso, em um estacionamento também norte-americano, alguém pendurou um sinistro aviso: “Atenção: é estritamente proibido o estupro por gangues. Os infratores serão processados”. Este aviso me fez lembrar de uma placa amarela, colocada aqui mesmo em Vitória, perto do Penedo, na qual via-se um elemento de arma na mão assaltando um outro – assim a população era avisada de que assaltos ali são frequentes.

Também é capixaba uma outra placa, localizada na Serra, na qual algum desesperado proprietário de terreno escreveu: “Proibido jogar lixo. Sujeito a tiro”. No mesmo espírito segue esta outra, igualmente brasileira: “Cuidado. Cão marca fila. Brábu. Muito brábu”. E esta: “Entrada proibida. Cuidado. Vaca brava. Cão bravo. Búfalo assassino. Cerca elétrica. Empregado louco”.

As ameaças, na verdade, já chegam até mesmo ao mundo dos mortos. Assim, em Newcastle (EUA), localizou-se o seguinte aviso: “Tocar nos fios elétricos causará morte instantânea e multa de US$ 200”. Aliás, até as leis já começam a seguir esta inspiração: na California quem detonar uma bomba nuclear terá que pagar uma multa! Fico a imaginar nos pobres fiscais recolhendo estas multas lá no além…

Por falar em morte, um indignado brasileiro, proprietário de uma motocicleta, pendurou na dita cuja uma placa com os seguintes dizeres: “Haverá vida após a morte? Mexa na minha moto e você saberá”.

Encerro com um aviso encontrado em um estacionamento de Devore, California (EUA): “Se você estacionou aqui sem ser deficiente, pode ser que seja ao sair”.

Todas estas placas, antes de serem meros objetos, refletem o estado de espírito de larga parte da humanidade. Traduzem, ainda que de forma canhestra, o inconformismo com a impunidade, a insegurança e a perda daquela cidadania mais básica. Todas estas placas são, na verdade, um aviso, e daqueles sérios, de que quando o mundo das leis ignora a realidade esta se vinga ignorando-o.

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