A mente criminosa é um mistério

Dizem alguns que o problema do crime é simples – um mero “problema social decorrente da pobreza”. Mas será mesmo tão singela a questão? Deixo esta reflexão após citar os exemplos que seguem.

Inicio por um ladrão norte-americano que, ao assaltar um escritório, comoveu-se com a palavra de uma de suas vítimas, quando esta referiu-se a Deus. Eis que ele interrompeu o assalto, colocou-se de joelhos juntamente com suas vítimas e com elas começou a orar. Ao final, entre lágrimas, retirou uma bala de seu revólver, com a qual presenteou uma das vítimas.

Um outro larápio, este sueco, afanou um computador portátil pertencente a um professor. Ali dentro daquela engenhoca estavam nada menos que 10 anos de pesquisas, conforme lamentou a vítima em uma entrevista. Sensibilizado, o ladrão copiou cuidadosamente o conteúdo do disco rígido, enviando-o diretamente ao apartamento do angustiado professor.

Na Alemanha um outro assaltante decidiu invadir, armado, uma casa de Schwanewede. Com todos os presentes dominados, ele passou a recolher dinheiro e bens diversos. Eis que uma criança de apenas dois anos de idade pega seu cofrinho de moedas, em formato de porquinho, anda até o assaltante e o entrega. Envergonhado, o ladrão pediu desculpas a todos e foi embora sem levar um objeto sequer.

Na Austrália, um “amigo do alheio” passeava pelo estacionamento de um supermercado quando viu um carro com dois telefones celulares sobre o banco. Como não poderia deixar de ser, afanou ambos. Ao ligar um deles, deparou-se com imagens relativas a pedofilia. Revoltado, o ladrão dirigiu-se a uma delegacia, confessou o seu crime, e em seguida exigiu a prisão do pedófilo – o que realmente veio a acontecer.

Voltando aos EUA, uma senhora teve sua câmera fotográfica furtada de dentro do carro, em um estacionamento. Triste e deprimida, deu entrevista a um jornal local declarando-se doente terminal, e que sentia muito o furto pois com aquela câmera estava registrando seus últimos dias como uma lembrança para os filhos e netos. No dia seguinte o ladrão, sensibilizado, devolveu a câmera.

Ainda naquele país um outro elemento decidiu furtar uma decoração natalina, no formato de Papai Noel. Eis que alguns dias depois, sensibilizado com o fato de ser época de Natal, o ladrão devolveu o enfeite, juntamente com um bilhete pedindo desculpas e ainda US$ 100 como compensação.

Aqui mesmo no Brasil, lá em São Paulo, um cidadão teve seu carro furtado. Desesperado, ligou para seu próprio telefone celular, que estava dentro do mesmo, e explicou ao ladrão ser aquele carro praticamente tudo o que tinha. Poucas horas depois o carro foi devolvido.

Nos EUA um assaltante invadiu uma casa vazia e de lá carregou diversos bens, pertencentes a uma viúva. Esta, infinitamente triste, fez um apelo público, relatando que entre os objetos subtraídos estava uma pequena urna contendo as cinzas de seu marido. Sensibilizado, o ladrão devolveu à idosa senhora sua carteira, suas joias e – claro – a urna funerária.

Encerro com o caso do furto de uma cruz de dada igreja de Minas Gerais. 60 anos depois, o ladrão arrependeu-se e procurou o pároco para devolver o objeto e pedir perdão.

E é assim, diante destes casos, que fico a recordar Miguel de Cervantes, quando dizia que “um bom arrependimento é a melhor medicina para as enfermidades da alma”. Ou La Bruyère, quando ensinava que “se a pobreza é a mãe dos crimes, a falta de espírito é seu pai”.

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