Um texto para refletirmos

Dia desses li que o Brasil gasta por ano em torno de R$ 21 bilhões no tratamento de pacientes com doenças relacionadas ao cigarro. O intrigante é que, apesar de todas as campanhas de esclarecimento, o problema só aumenta, aqui e pelo planeta afora – a China, por exemplo, tem hoje mais fumantes que toda a população brasileira somada. 

Nos últimos dez anos, segundo a Fundação Mundial do Pulmão, o número anual de mortes saiu de 2,1 para 6 milhões – o tabaco causou 100 milhões de mortes no século XX e deverá causar mais 1 bilhão no século XXI. Isto a despeito de todas as restrições adotadas! 

Pois bem: há algum tempo, lendo o respeitado jornal “Daily Mail”, do Reino Unido, deparei-me com uma notícia que, a ser confirmada, deveria induzir uma muito profunda reflexão por parte da humanidade como um todo. Reproduzo-a a seguir, em tradução livre. 

“Os cigarros estão mais perigosos do que nunca devido a uma série de táticas adotadas pelos fabricantes nos últimos 50 anos, alertou uma entidade. A “Campanha para Crianças Livres do Tabaco” produziu um revelador infográfico que expõe exatamente como os cigarros mudaram nas últimas cinco décadas”. 

“Médicos da entidade disseram que os cigarros de hoje significam um risco ainda maior para a saúde do que aqueles comercializados em 1964, quando o primeiro alerta sobre seus malefícios foi dado pelo sistema de saúde norte-americano”. 

O gráfico mencionado na notícia tem o seguinte título: “Nove formas de as empresas de tabaco fazerem cigarros mais viciantes, mais atraentes para crianças e mais mortais”. Segue, então, a descrição das mesmas. 

A primeira: “Filtros ventilados. Buracos de ventilação nos filtros fazem com que os fumantes inalem mais vigorosamente, levando carcinógenos mais profundamente para dentro dos pulmões”. A segunda: “Broncodilatadores. Substâncias químicas expandem as passagens aéreas, tornando mais fácil a passagem da fumaça do tabaco para os pulmões”. 

A terceira: “Flavorizantes. A adição de flavorizantes como alcaçuz e chocolate mascara a aspereza da fumaça e faz com que os produtos fiquem mais atraentes para novos usuários, especialmente crianças”. A quarta: “Mentol. O mentol resfria e lubrifica a garganta para reduzir a irritação e fazer com que a fumaça seja mais suave”. 

A quinta: “Compostos de amônia. A adição de compostos de amônia aumenta a velocidade com que a nicotina chega no cérebro”. A sexta: “Açúcares e acetaldeídos. A adição de açúcares faz com que a fumaça do cigarro seja mais fácil de inalar e forma acetaldeídos, que potencializam os efeitos viciantes da nicotina”. 

A sétima: “Ácido levulínico. A adição de ácidos orgânicos e sais reduz a aspereza da nicotina e faz com que a fumaça seja mais suave e menos irritante”. A oitava: “Nitrosaminas: os cigarros de estilo americano são feitos com misturas de tabaco que contém níveis muito superiores de nitrosaminas causadoras de câncer”. Finalmente, a nona: “Nicotina reforçada. As empresas de tabaco controlam a liberação e quantidade de nicotina, assegurando a dependência”. 

Os pesquisadores concluíram, então, que “os fumantes de hoje estão sujeitos a riscos muito maiores de câncer de pulmão e obstruções pulmonares crônicas que em 1964 – apesar de fumarem menos cigarros”. 

Eu não sei, e fique isso muito claro, até que grau são procedentes as afirmações científicas anunciadas. Mas posso afirmar, sem medo de errar, que se comprovadas forem significarão um dos maiores objetos de responsabilização civil e criminal jamais existentes ao longo da caminhada da humanidade – afinal, estaríamos a falar não mais simplesmente de dependência, mas de indução científica a esta. Com a palavra, pois, o aparato legal brasileiro! 

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