Verdade sofrida

Dia desses o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, durante um discurso, defendeu a tese de que “jornalista não está livre de ser assassinado, se for um filho da (impublicável)”.

Diante destas palavras, torna-se possível entender o motivo de aquele país ser um dos mais perigosos para os jornalistas. Aliás, referindo-se aos profissionais que tombaram por conta do exercício profissional, assim pronunciou-se o presidente: “A maioria dos que foram mortos, para ser franco, alguma coisa fez. Não se é morto se não se fizer algo de errado”.

Citou, em seguida, o nome de uma das pobres vítimas, arrematando: “Não quero diminuir a sua memória, mas ele era um grande filho da (impublicável). Mereceu o que lhe aconteceu”.

Na Ucrânia, a parlamentar federal Nadiya Savchenko não foi menos agressiva: “Jornalistas são como cachorros. Honestamente. São como chacais, prontos a atacar e destroçar suas vítimas sem nem compreender o motivo”.

Tais palavras explicam os motivos pelos quais, desde 1990, nada menos de 2.297 jornalistas terem sido mortos por conta do exercício da profissão. Somente em 2006 foram 155, quase um a cada dois dias e meio.

Neste sinistro cenário o Brasil aparece em destaque, sendo o 7º país no qual mais se matam jornalistas. Em número de mortes, estamos empatados com o Iêmen e o Sudão do Sul – dois países que estão em guerra. Mata-se mais aqui do que na Somália, Paquistão, Ucrânia e Afeganistão.

Há também aqueles que, evitando mortes, muitas vezes usam as instituições simplesmente para silenciar a imprensa. Esta tendência começou a ser registrada aqui no Brasil há uns dez anos, quando, para uma amostragem de 2.783 jornalistas, foram encontradas 3.342 ações judiciais.

Não nos esqueçamos, finalmente, daqueles que recorrem às verbas de publicidade para “domesticar” a imprensa. Neste sentido, um levantamento feito para o jornal “Folha de São Paulo” demonstrou ser o Brasil um dos países que mais gastam com publicidade estatal – 7,13% de tudo que se investe no setor. Nos EUA, são apenas 1,63%!

É diante desta realidade tão sombria que me vem à mente aquela frase do rei inglês George III, que representa fielmente estes todos: “Eu desejo o bem; portanto, quem não concordar comigo é um traidor”. Perfeito, Majestade, mas Vossa Alteza deseja o bem de quem, afinal?

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