A Cortina de Ferro

Dizem alguns que a expressão “Cortina de Ferro” foi criada por Winston Churchill para definir um cenário de horror e opressão. Dizem outros que o verdadeiro autor desta figura teria sido Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha nazista.

Seja como for, trata-se de um termo que define períodos sombrios, nos quais a liberdade e a cidadania – a dignidade humana, enfim – são sufocadas de forma insidiosa e cruel, sacrificadas no altar da hipocrisia em louvor à sanha egoísta de alguns poucos.

Tempos difíceis, os da “Cortina de Ferro”. Diante da falência das instituições, eis pela palavra do suserano de plantão a necessidade de uma “cultura de segurança”, apanágio do “estado policial”. A reboque deste as barreiras, revistas, checagens e rechecagens contra um povo humilhado e intimidado – mas, paradoxalmente, por iludido, agradecido!

Ante o fracasso daquela ordem social injusta típica de tais tempos, nunca tão seletivos os portões das masmorras – pelos quais passam alguns miseráveis criminosos cujo sofrimento proporcionará o controle social de outros que não o são, em benefício de uns poucos que o são mas que lá não estão. Periodicamente, é claro, há que haver aquela exceção que confirme a regra e serene os ânimos dos menos iguais.

Diante de um panorama desses, e em se tratando de espécie humana, certo o surgir de uns tantos Dons Quixotes – a estes, porém, reservada a Sibéria, ora física, ora moral, conforme o tecido humano no qual bordada a cortina de que aqui tratamos.

As leis destes lugarejos, como não poderia deixar de ser, são sempre fartas e majestosas, proibindo, na ironia formidável de Anatole France, que ricos e pobres durmam sob as pontes.

Uma das maiores vítimas deste estado de coisas é a privacidade – nele nunca tão homenageado o dito popular segundo o qual “as paredes tem ouvidos”. Tal estado de coisas rouba de todo um povo o direito simples ao diálogo – afinal, decerto haverá alguém à espreita.

E que dizer da imprensa? Esta há que existir, de forma a proporcionar uma falsa sensação de normalidade – mas que não passe de certos limites, em seguida aos quais será chamada às falas a bico de porrete ou de pena.

Normalmente, nestes confins, apregoa-se que todos são iguais em termos de oportunidades – no entanto, dentro daquela máxima segundo a qual alguns são sempre mais iguais do que outros, não é raro o implementar de economias cartoriais, nas quais apenas resta à patuleia tratar dos restos deixados pela divisão de licenças, autorizações, alvarás, permissões, concessões e afins.

Problema sério, a propósito deste aspecto, é a burocracia. Rígida e rigorosamente controlada, eis aí o mais formidável instrumento de controle das massas! Ao fim do cabo, quem pode contra um exército de burocratas?

Como não poderia deixar de ser, nestes cafundós todos tem a mesma opinião – ou pelos menos dizem tê-la – sobre os principais problemas nacionais. Via de regra vieram todas de algumas poucas cabeças pensantes, por vias normais ou subliminares – afinal, para que pensar?

Um lugar desses simplesmente não tem como progredir, pois nenhum povo sufocado consegue respirar bem. Daí, talvez, o motivo pelo qual todas as “Cortinas de Ferro” surgidas ao longo da marcha da humanidade terem caído, quase sempre desmascaradas como plutocracias, cleptocracias, falsas democracias ou similares – afinal, não se pode enganar a todos durante todo o tempo, como ensinou sabiamente Abraham Lincoln.

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