A droga no trânsito

No não tão distante ano 2000, o Departamento de Transportes da Inglaterra divulgou os resultados de uma pesquisa sobre a influência do uso de drogas nos acidentes fatais. Constatou-se que 18% dos motoristas envolvidos tinham traços de drogas no sangue. O número de motoristas que haviam usado tóxicos só perdeu para os que tinham ingerido álcool: 32%.

Eu não consegui descobrir qual o percentual de motoristas brasileiros que, ao se envolverem em acidentes com morte, tinham traços de drogas no sangue. Mas não acredito que o resultado final de alguma eventual pesquisa seja muito diferente do da Inglaterra. Exemplifico com o caso do álcool, detectado em 42,7% dos acidentes fatais ocorridos em São Paulo no ano de 2005 (só para lembrar: na Inglaterra, foram 32%). Assim, acredito que podemos, sem grandes sobressaltos, assumir o percentual de 18% de drogados como válido para o Brasil (e talvez estejamos sendo otimistas).

Eis aí uma realidade muito séria. No Brasil, entre 1960 e 1996, mais de 600.000 pessoas morreram em nossas ruas e estradas. Aliás, de acordo com a ONU, morrem quatro vezes mais seres humanos em acidentes de trânsito do que em guerras.

Assim, na esteira da rígida fiscalização que hoje se faz relativamente ao consumo de álcool, quero crer que seja lógico dever existir a mesma providência no que toca ao uso de tóxicos – afinal, o só fato de 18% dos motoristas envolvidos em acidentes fatais terem feito uso de tóxicos é mais do que suficiente para acender uma luz vermelha.

Inclusive, segundo uma pesquisa realizada na França, no ano de 2005, fumar maconha duplica o risco de acidente com morte nas estradas. Ainda segundo a mesma pesquisa, 230 pessoas morreram nas estradas francesas, naquele período, devido ao consumo de maconha. Ou seja: justifica-se sim uma ação mais efetiva.

O problema neste tipo de fiscalização era o exame em si, considerado lento, complicado e caro. Pois bem: esta barreira acabou. Há poucos dias li, em jornais de Portugal e da França, os primeiros resultados do uso de um novo tipo de exame absolutamente rápido e simples.

Assim, em Portugal, as autoridades de trânsito realizaram, entre agosto de 2007 e junho de 2008, 2.697 destes exames, dos quais 162 foram positivos. Este teste é feito a partir de uma pequena amostra da saliva do motorista, que é colocada em um recipiente e misturada a uma substância química. Ao final de oito minutos, revela-se se o motorista consumiu ou não tóxicos. Acerca deste exame, assim declarou o Ministro do Interior da França: “os testes a partir da saliva são rápidos e muito simples”. Foram distribuídos aos policiais franceses 52.000 estojos para testes, capazes de detectar vestígios de cocaína, maconha, anfetaminas e ecstasy.

Além de rápidos e simples, estes novos exames são seguros: na França, em dez testes realizados nas ruas durante uma única hora, três deram positivo para uso de maconha. Um dos motoristas disse que tinha fumado um “baseado” na noite anterior, e o outro há três dias! De acordo com a equipe médica do governo, estes testes permitem detectar traços de drogas que tenham sido consumidas há até dez dias.

Estes exames têm sido aplicados com critério na Europa – ao se localizar um motorista com comportamento estranho, aplica-se-lhe o teste do álcool, o popular ‘bafômetro’, e só depois, caso se entenda necessário, o de tóxicos.

Na França, um motorista que esteja a conduzir veículos sob a influência de drogas incorre em uma multa de 4,5 mil Euros e ainda passará uma temporada de 2 anos da prisão. Já em Portugal a pena consiste em uma multa de 500 Euros e na suspensão do direito de dirigir veículos durante dois anos.

Eis aí um bom tema para discussão no seio do nosso Poder Legislativo – afinal, provado já está que um trânsito com drogas é mesmo uma droga de trânsito.

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