África e Brasil

Dia desses, lendo a revista “New African”, deparei-me com um belo artigo de seu editor. Disse ele que “em 1581, o escritor inglês John Hales, cansado de ver sua pátria empobrecer mais e mais, enquanto enriquecia outras terras no continente através da exportação de matéria-prima, lamentava amargamente: que vítimas da esperteza temos sido… entregamos nossos materiais, proporcionando emprego a estrangeiros, para comprá-los novamente depois”.

Assim porque, “como o economista norueguês Erik S. Reinert, apontou, entre a matéria-prima e o produto finalizado há um multiplicador: um processo industrial que demanda e cria conhecimento, mecanização, tecnologia, divisão de trabalho, maiores lucros, e, acima de tudo, emprego para as massas de subempregados e desempregados que sempre caracterizam os países pobres”.

Chegou-se, então, a 1721, quando Robert Walpole assumiu o cargo de Primeiro-Ministro, implementando uma política de estímulo à indústria inglesa e ao comércio, enquanto deliberadamente impedia as colônias de fazerem o mesmo, pois que deveriam permanecer apenas na condição de exportadoras de matéria-prima.

Em um famoso pronunciamento perante o Parlamento inglês, este grande governante assim se manifestou: “Nada contribui mais para a promoção do bem-estar da população que a exportação de produtos manufaturados e a importação de matéria-prima”.

Esta política, sabemos todos, contrastou com a “economia colonial extrativista” imposta aos africanos e latino-americanos.

Vamos a um exemplo moderno: “Em 2014, a África exportou US$ 2,4 bilhões em café. A Alemanha, que não é um produtor, mas um processador, reexportou quase US$ 3,8 bilhões. Esta disparidade é um chamado para que a África agregue valor ao seu café”.

Alerta ele, ainda, para o fato de que as fontes de matéria-prima não são eternas.

O Professor Reinert concluiu, então: “a História ensina que quanto mais um país se especializa em produzir matéria-prima, mais pobre ele se torna”. E acrescenta: “assim, se você desejar entender as causas da prosperidade dos Estados Unidos e da Europa, estude as políticas que eles criaram, e não os conselhos que hoje, ignorando o passado, oferecem”.

É neste ponto que o autor do texto, contemplando o pobre povo que habita seu rico continente, exclama: está ouvindo, África? Pois é. A ele peço licença, para igualmente perguntar: está ouvindo, Brasil?

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