O povo oprimido

Dia desses, lendo a conceituada “Revue du Liban”, deparei-me com a reprodução de um texto fascinante, daqueles que induzem profundas reflexões, e que não poderia deixar de compartilhar com a sociedade deste querido Estado do Espírito Santo. Assim, lá vai:

“O povo inglês caiu numa armadilha na Mesopotâmia. Ele dificilmente poderá sair de lá com dignidade e honra. Ele está sendo enganado pela dissimulação constante da verdade. Os comunicados de Bagdá estão defasados relativamente aos acontecimentos; eles faltam com a sinceridade e são incompletos. A realidade é pior do que aquela que nos tem sido dita. Nossa administração é mais ineficaz e mais sangrenta do que aquela que nos descrevem. Ela é indigna de nossa história imperial e revelar-se-á brevemente muito abjeta para um tratamento ordinário. Nós estamos às vésperas de um desastre”.

Decepcionados? Com razão. Realmente, o que traz este texto de novo? É quando cito aquela famosa máxima, segundo a qual “não importa o que se diz, mas quem o diz” – e, acrescento eu, “quando o diz”.

Esta a novidade: o texto que acima transcrevi foi escrito no distante ano de 1920 por um tal “Lawrence da Arábia”, na verdade o Coronel T.E. Lawrence, do Exército Inglês, horrorizado com a barbárie imposta ao sofrido povo da terra das 1.001 noites! Este texto foi publicado no jornal “Sunday Times” do dia 22 de outubro de 1920, que trazia notícias sobre a invasão das tropas inglesas àquela aprazível terra…

Lia-se, ainda, no periódico citado, que “cidades inteiras foram arrasadas pela aviação inglesa. Em quatro meses, 10.000 pessoas morreram. Os blindados, por terra, forçavam as populações em pânico rumo a campo aberto, onde poderiam exterminá-las melhor”.

Passados já 96 anos, vemos que a edição do “Sunday Tomes” do citado dia 22 de outubro de 1920 continua rigorosamente atual! A diferença é que hoje estamos a tratar dos efeitos daqueles desatinos, sacrificando mais e mais vidas de inocentes – e, a reboque, abrindo mão, espontaneamente, de direitos civis conquistados pela humanidade a duras penas, sob o preço da vida e da felicidade de tantos heróis e mártires. Que tal refletirmos sobre isso?

Seja como for, acredito que nada mais perfeito para encerrar estas mal-traçadas linhas que o Eclesiastes:

“O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol”.

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