As verdadeiras vítimas

Há uma frase do Padre Antonio Vieira que merece ser lembrada. Dizia o famoso orador sacro: “Fizestes tudo pela Pátria e a Pátria vos foi ingrata? Fizestes o que devias e a Pátria o que costuma fazer”.

Esta bela passagem dos “Sermões” de Vieira nos vem à memória quando vemos o que ocorre atualmente com os integrantes de nossa Polícia Militar.

Realmente, qualquer um que se der ao trabalho de examinar o número de policiais militares mortos em serviço, vai ficar estarrecido, espantado, se não pelo menos revoltado.

Assim, nestes últimos anos registram-se as seguintes vítimas policiais:

Em 1995 morreu em serviço o soldado Luis Carlos Magalhães;

Em 1996: o capitão Geraldo Paulino da Silva, o cabo Paulo Freitas, e os soldados Edivaldo de Souza Silva, Paulo Cesar da Silva Reis, Jhovenal do Nascimento, Lozimar Antonio Barcelos, Genilson Galis de Oliveira, Jhovenil do Nascimento Alves e Ederaldo de Freitas;

Em 1997: o 2º Sargento Sebastião Ferreira Bezerra, o 3º Sargento Genil Pereira de Vasconcelos, o cabo Rui Barbosa, e os soldados Marquim de Paula, Isaias Lira, André Luiz de Oliveira e Rui Henrique Gonçalves Filho;

Em 1998, o aluno-oficial do 3º ano, Emerson da Silva Aguiar;

Em 1999, os 3ºs. sargentos Adevanir Alves Guimarães e Waldemir Kuhn, o cabo Antonio Carlos de Abreu e os soldados Renato Andrade Rocha e Sérgio Gomes Costa;

No ano 2000, o 3º Sargento Josimar Alexandre, os cabos Luiz Carlos Vieira dos Santos e Jucimar Liberato e os soldados Valci Floriano Roberto, Romildo Militão da Silva e Paulo Henrique Pereira; e,

No corrente ano de 2001, já tombou em serviço, até agora, o soldado José Luiz de Souza.

Mas, além desses 30 mortos, há, ainda, cerca de 50 feridos, uns com lesões leves, outros com lesões graves ou gravíssimas, e ainda alguns mutilados, porque perderam membros, órgãos e ficaram deficientes físicos ou paraplégicos.

Trata-se, como se vê, de um quadro trágico. E essse quadro torna-se ainda mais trágico quando tivemos oportunidade de ler há pouco tempo que, num confronto entre policiais e bandidos, os policiais dispunham apenas de 6 balas cada um, enquanto os bandidos estavam armados de metralhadoras com enorme quantidade de munição.

Bem adequada foi a charge de Chico Caruso, publicada recentemente num dos grandes jornais do País, na qual um policial se apresenta armado de metralhadora e o assaltante comenta para seu comparsa: “Veja só que absurdo! a Polícia está usando armas privativas do Comando Vermelho”.

Enquanto a Polícia, mal remunerada, mal aparelhada, completamente desprovida de recursos técnicos e materiais, faz esforços sobre-humanos para defender a sociedade diante de uma criminalidade que se agiganta de maneira quase que incontrolável, essa mesma sociedade, através de uma ordem social injusta, continua fabricando bandidos e criminosos às mancheias.

Basta relembrar trechos de carta que recebi de um dos leitores desta coluna, Sr. Izaias Pratti, de Vila Velha, em que, a certa altura, diz: “Em Vila Velha é só ir ao DPJ (feito para 15 pessoas) e ver quase 100 jovens, muitos presos e autuados arbitrariamente (art. 157), pelo roubo de porcarias (óculos, barbeador, protetor solar), e logo após visitar os cemitérios em que se acham enterrados jovens que foram mortos, todos com passagem na Polícia. A justiça ou injustiça dos três Poderes precisam dar anistia aos autores de pequenos delitos, recuperar os drogados e conseguir emprego”.

Desgraçadamente, não se pode deixar de reconhecer que, no nosso País, o problema social aumenta. As verdadeiras causas da criminalidade não são enfrentadas. Ainda agora, enquanto o Governo Federal anunciava, alto e bom tom, no seu Programa de combate ao crime, que uma das medidas a serem adotadas seria o de aumentar a iluminação das ruas, porque isso é fator inibidor fundamental, logo em seguida decreta-se o racionamento de energia, obrigando as Prefeituras e deixarem desligadas as luzes dos logradouros públicos.

E a Polícia fica entre “o mar e o rochedo”, até que os policiais passem a entender, segundo o ensinamento de Napoleão, que “a arte da Polícia consiste em não ver o que é inútil que ela veja”.

No final de contas, raciocinando bem, vamos chegar à conclusão de que as verdadeiras vítimas desse lastimável estado de coisas são, de fato, os policiais, que, por dever de ofício, entram no meio de um conflito social, do qual não têm a menor culpa, e muitas vezes apenas para manterem e garantirem tremendas injustiças.

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