Cadê os pobres?

Dia desses ouvi, mais uma vez, certa frase muito pronunciada aqui no Brasil: “o problema da criminalidade é um fruto da pobreza”. Eis como, de forma absolutamente singela, nossa sociedade rotineiramente resume um desafio tão complexo.

Diante desta afirmação, trombeteada de forma absolutamente grave por um idoso interlocutor, fiquei a meditar sobre as fortunas desviadas dos cofres públicos, no mais das vezes impunemente, por já ricos senhores. Eis aí um dos mais graves problemas da humanidade!

Há também aqueles abastados empresários cujas fortunas, abrigadas em paraísos fiscais, passando ao largo do recolhimento de tributos, algo inevitável apenas para os menos favorecidos, sangram a humanidade – por vezes literalmente, em função das crises que causam.

Por falar em empresas, não nos esqueçamos daquelas poderosas corporações envolvidas em crimes que vão desde o uso de mão-de-obra escrava até o saquear puro e simples de riquezas minerais de outros povos, por vezes através de conflitos os mais devastadores.

Fiquei a meditar sobre os poderosos dirigentes de grandes corporações que, buscando aumentar seus já milionários salários, reduzem custos ao preço de impor aos consumidores – crianças incluídas – produtos sabidamente nocivos à saúde.

O que dizer dos ricos e poderosos detentores de diversos meios de comunicação utilizados para dominar por vezes países inteiros, em obediência a interesses os mais escusos, vitimando milhões de seres humanos inocentes?

Igualmente dignas de menção são as tantas autoridades que, malgrado providas de todas as garantias legais, e desfrutando de razoáveis padrões de vida, comportam-se como leões diante de carneiros e carneiros diante de leões, proporcionando aos ricos e poderosos uma impunidade abjeta.

Pensemos, finalmente, nos competentes e ricos profissionais, das mais diversas áreas, cujas vidas são dedicadas a servir de suporte a cúmplices, digo, a igualmente abonados senhores que se nutrem no mesmo coxo imundo do mal.

Eis aí, e peço desculpas se esqueci de algo, a relação da pior, mais violenta e danosa criminalidade que flagela a humanidade. Pois é: e cadê os pobres? A estes só resta, pelas mãos do Estado, representar 99,99% de nossa população carcerária – seja no Brasil, seja pelo planeta afora. Quanta injustiça, meu Deus!

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