O preço do caos no trânsito

Dia desses li que o tempo perdido pelos paulistanos nos engarrafamentos de trânsito gera um custo de R$ 26,8 bilhões por ano. Chegou-se a este valor computando-se o que 3,7 milhões de pessoas deixaram de produzir por estarem retidas no trânsito. Há também o custo com combustível e desgaste a maior dos carros, que alcançou inacreditáveis R$ 6,5 bilhões por ano. Em resumo: só a cidade de São Paulo perde R$ 33,3 bilhões a cada ano apenas em função dos engarrafamentos. No Rio de Janeiro fizeram o mesmo cálculo. Chegou-se a um prejuízo de R$ 12 bilhões por ano, o equivalente a incríveis 10% do PIB da cidade.

Este foi um estudo otimista. Há o pessimista, feito por um professor da Faculdade de Urbanismo da USP, segundo o qual São Paulo perde R$ 52 bilhões a cada ano, o equivalente a 20% do PIB da cidade.

Deve ser registrado que não foram computadas, nestes cálculos, as despesas a maior que este quadro gera para os governos – guardas de trânsito e equipamentos, por exemplo. Também não foram incluídos na conta os pequenos acidentes que os engarrafamentos invariavelmente causam. Ou seja: mesmo o cálculo mais pessimista é profundamente otimista!

Estes estudos foram feitos sobre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. E em escala nacional? Neste caso, com base em cálculos realizados no já algo distante ano de 2002, quando os engarrafamentos eram bem menores, a conta chega a chocantes 6% do Produto Interno Bruto, um escândalo. Isto dá algo como R$ 97 bilhões a cada ano.

Só para que se tenha uma idéia do que isto significa, jogamos fora em engarrafamentos mais do que o dobro do orçamento do Ministério da Saúde de 2007 (R$ 40,6 bilhões). Vamos dramatizar esta conta? No Brasil morrem 20 crianças a cada dia por doenças decorrentes da falta de esgoto sanitário. Pois bem, o orçamento federal para obras de esgoto e melhorias sanitárias é de R$ 1,6 bilhão – ou seja, gastamos 60 vezes mais com engarrafamentos! Se alguém ainda não estiver convencido da gravidade do problema, vamos a outro número: o orçamento para os Postos de Saúde brasileiros é de R$ 7,8 bilhões – gastamos 12 vezes mais com engarrafamentos.

Estes números chocam? Repito: eles são otimistas, por não incluírem custos com acidentes, negócios perdidos em função de atrasos, pessoas que morreram por falta de atendimento porque as ambulâncias se atrasaram no trânsito, doenças causadas pela poluição, etc. – em uma expressão, a realidade é infinitamente mais grave.

Diante deste quadro, é surpreendente a facilidade com que se fecham ruas em nosso país, agravando ainda mais o problema! Ora são eventos de menor importância que bem poderiam acontecer em locais próprios, ora são trabalhos públicos realizados em horários, ritmos e formas totalmente inadequados à realidade.

Um outro aspecto igualmente digno de nota é a pouca atenção que se dá, aqui, ao transporte ferroviário. Na Grande Tóquio, por exemplo, cerca de 30 milhões de pessoas – algo em torno de 60% da população – utilizam o sistema de trens como principal meio de transporte. Eis aí um exemplo notável – afinal, trens são seguros, rápidos e poluem menos.

Há alguns anos li um interessante livro do economista japonês Kenichi Ohmae, no qual ele pregava a necessidade de as estruturas urbanas funcionarem bem, a fim de poderem atrair riqueza e progresso para vastas regiões ao seu redor. Tóquio, Osaka, Shanghai, Guangdong, Shenzen, Frankfurt e tantas outras grandes cidades são a prova do acerto desta teoria. Elas atraíram investimentos, gerando riqueza e progresso aos seus arredores.

Já São Paulo – e ouso ampliar, o próprio Brasil – é o exemplo do que não se deve fazer. Cá estamos com cidades cada vez maiores, porém gravemente carentes de infra-estrutura e de serviços básicos de qualidade. O resultado? Ao invés de anéis de progresso, temos cidades cada vez mais confusas cercadas por bolsões de miséria. Talvez fosse este o momento de recordarmos a grande lição de Roberto Campos: “o mundo será salvo muito mais pela eficiência do que pela caridade”.

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