Reflexões necessárias

Em conseqüência da tendência que as crianças têm em imitar aqueles que as cercam, os exemplos dos pais desempenham um grande papel na moralidade de uns e na criminalidade de outros.

Por isso a Lei permite afastar do exercício da autoridade paterna os pais que são indignos de exercê-la. Os pais e as mães que por sua embriaguez habitual, sua má conduta notória e escandalosa comprometem a moralidade dos filhos, podem ser despidos do pátrio poder (Código Civil, art. 395).

Não há obra mais humana, mais útil, do que fazer educar as crianças abandonadas. Acrescento que não há mais econômica. Os gastos com a educação serão sempre muito menos elevados, do que o prejuízo resultante dos malefícios que estas crianças poderão cometer.

As formas especiais que toma a criminalidade, se comunicam da mesma maneira, influenciando particularmente os menores. É assim que o consumo e tráfico de drogas estão generalizados nestes últimos anos.

Puffendorf já assinalava, com muita sagacidade, a necessidade que se impõe à justiça de se punir severamente aquele que, primeiramente, comete um crime por um processo novo, a fim de segurar os imitadores. “Aquele, diz ele, que comete primeiramente, num Estado, algum crime prejudicial por seu contágio, e que o ensina, por assim dizer, aos outros, por seu exemplo, peca com mais atrevimento do que aquele que se deixa levar ao crime pela torrente”.

Sabe-se que a publicação de Werther, a famosa obra de Goethe, o genial escritor alemão, foi seguida duma verdadeira epidemia de suicídios.

Platão não acreditava que se pudesse contar indiferentemente toda espécie de fábulas às crianças, e achava perigoso para sua moralidade as narrações de ações criminosas, que os poetas atribuíam aos deuses, porque podiam servir de exemplo e de incentivo. (República, I).

Nada é umais salutar, mais fortificante, do que a apresentação do belo e do bem, do que a descrição de belas ações, do que a vida dum homem de coração. A educação moral se faz mais pelos exemplos do que pelos preceitos. A biografia dum herói da antiguidade ou dum santo cristão age mais eficazmente sobre a alma da criança do que a leitura dum tratado de moral. As crianças e mesmo os homens, têm necessidade de receberem modelos. Na família, na escola, no regimento, na sociedade, é lhes apresentando modelos que se age sobre as crianças, os soldados e os homens. Se as leituras contribuem mais do que a ciência no desenvolvimento dos belos sentimentos, para a formação do caráter, é sobretudo pelo estudo da vida dos grandes homens, pela descrição de suas ações

Se seus discípulos, ainda hoje, vão evangelizar selvagens, com perigo de suas vidas, educam as crianças, cuidam dos doentes, é para imitar Jesus e seu divino modelo.

É esta imitação que suscita as grandes virtudes cristãs. É esta imitação que os apóstolos, os pregadores, não cessam de ensinar. Quando escreve aos Tessalonicenses, São Paulo os felicita por se terem tornado os “imitadores do Senhor”; quando se dirige aos Efésios, lhes diz: “sede os imitadores de Deus”.

Os médicos que tomam na devida conta o poder dos bons e dos maus exemplos, desejariam, com razão, que não se expusessem nos jornais o quadro das enfermidades morais, dos suicídios e dos crimes; temem o perigo que apresenta esta publicidade, para os espíritos fracos, doentios, que estão na sociedade (porque nem todos os loucos estão no hospício), para os jovens e as mulheres nervosas. Os detalhes dados sobre a execução dos suicídios, dos crimes, excitam a imaginação e podem levar o espírito à imitação.

Esta publicidade apresenta por outro lado o mais grave inconveniente de ensinar processo de execução de atos criminosos.

Tenho observado que notadamente nos processos de assassinato, de infanticídio, de aborto, de fabricação de moeda falsa, os acusados baseiam constantemente a execução do crime sobre a descrição de crimes análogos, em filmes e noticiários.

Não é bom que os rapazes, as moças, procurem diariamente imagens e excitação malsãs nas publicações de vícios e de crimes que se estampam nas colunas da imprensa.

Conforme observava Paulo Bonfim, “hoje em dia, as pessoas nascem, vivem e amam por imitação”.

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