A violência nas escolas

Há pouco menos de um ano li em A Tribuna uma chocante reportagem sobre a violência nas escolas. Denunciou-se, sem rodeios, que “alunos matam aula, usam e vendem drogas na escola e ameaçam professores e coordenadores de morte”.

Haveria algum sensacionalismo nesta matéria? Penso que não. Em 2006 o Ministério da Educação concluiu, após uma pesquisa de âmbito nacional, que incríveis 47% dos professores ou funcionários das escolas públicas já foram xingados ou ameaçados por alunos. E a Secretaria Nacional Antidrogas constatou, em 2005, que 12,7% dos alunos brasileiros entre 10 e 12 anos já consumiram algum tipo de droga ilícita.

Seria este um problema típico de países que ainda não alcançaram altos graus de desenvolvimento econômico? Não. Inglaterra, um passo à frente: um professor é verbal ou fisicamente agredido a cada sete minutos, conforme estudo realizado pela Associação Nacional de Professoras. Constatou-se que os professores ingleses vêm sendo mordidos, arranhados, chutados e socados. Em um caso, uma menina empurrou a professora sobre uma carteira, e enquanto esta caía ao chão o resto da classe aplaudia com entusiasmo. Por conta de casos assim, em 2008 uma pesquisa nacional concluiu que 20% dos professores daquele país exigiam o retorno das punições corporais para alunos insubordinados, com o uso de bastões. Diante deste quadro tenebroso, as escolas inglesas ganharam o direito de revistar seus alunos.

Seria a Inglaterra uma exceção na Europa? Não. Segundos dados da Agência Européia para a Segurança no Trabalho, nada menos que 1,5 milhão de professores foram agredidos por alunos no ano de 2004. Foi recomendada, a nível continental, a substituição de móveis e equipamentos que pudessem servir de arma, e bem assim a instalação de dispositivos de segurança para revista e controle dos alunos.

Na conceituada Suíça, segundo noticiou há poucos meses o informativo Swissinfo, este problema alcançou um nível de seriedade tal que chegou-se ao ponto de proibir o consumo do popular energético Red Bull nas escolas. Um funcionário de uma escola de Rümlang chegou a declarar que “já tivemos muitos casos de crianças inquietas, que não eram capazes de ficar sentadas nas suas salas de aula”.

Do outro lado do Oceano Atlântico, os Estados Unidos enfrentam o mesmo problema, conforme registrou uma detalhada reportagem do sério The New York Times: “Alunos colocam suas mochilas em aparelhos de raios-x e passam por detectores de metal. Este processo, similar ao que é realizado em aeroportos, é um ritual diário para os mais de 4 mil estudantes da Kennedy High School, em Nova York, que às vezes esperam até 30 minutos na fila da segurança”. Segundo o jornal, “esta rotina não é estranha à cidade de Nova York, na qual 65 escolas procedem da mesma forma”. Esclareceu-se que detectores de metal são utilizados nas escolas de lá desde a década de 1980.

Conforme apontou a matéria, este quadro é nacional: “No Distrito Escolar de Los Angeles, guardas de segurança devem conduzir buscas aleatórias em pelo menos uma sala de aula a cada dia. A Philadelphia coloca detectores de metal em todas as suas escolas desde 1997. A maioria das escolas tem dois detectores, e os alunos devem chegar normalmente uma hora antes das aulas para serem revistados”.

Após ler todas estas reportagens, estudos e pesquisas, observei, além dos dados chocantes, um outro ponto comum a todas: a constatação de que um grande fator para a violência nas escolas é a impunidade dos menores infratores. Como “tudo acaba dando em nada”, os pobres professores ficam a cada dia mais fragilizados e acuados.

Apenas para que se tenha uma idéia do nível desta impunidade, calculou-se que, no Brasil, 15% dos menores infratores internados cometeram assassinatos – desses, mais da metade não ficam sequer um ano fora das ruas. E o pior, conforme escreveu o conceituado jornalista Pedro Maia em memorável artigo publicado há poucos meses, é que no já pouco tempo que estes menores ficam “nestas masmorras com roupagem de assistência social, nada lhes é dado de positivo para uma mudança do destino que a vida lhes reserva. Muito pelo contrário”. Sábias palavras!

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