A virada do milênio

Qualquer um que se debruçar um pouco nos estudos da História Universal, haverá de observar, sem muita dificuldade, que o maior fenômeno verificado no último milênio, e, em particular, no último século, foi o surgimento do Império norte-americano.

Efetivamente, desde os tempos mais remotos conquistadores de todos os continentes sonharam com o domínio do mundo. Nunca o conseguiram. Em primeiro lugar porque o mundo ainda não estava totalmente descoberto; e, em segundo lugar, porque acabaram derrotados.

Só agora, na segunda metade do século 20, ou seja, após a segunda guerra mundial, criou-se e consolidou-se, a partir de então, o maior Império de toda a História da Humanidade.

Os Estados Unidos adquiriram uma supremacia militar, econômica e social de tal natureza, distanciaram-se tanto das demais nações e avançaram tecnologicamente de tal maneira, que já não há sequer contestação ao seu Poder.

O inglês é a lingua universal. O dólar é a moeda universal. E, ademais, vale relembrar:

  1. Nos idos de 1969 os americanos mandaram uma nau tripulada à lua. A viagem foi sofregamente acompanhada por toda a humanidade através da televisão. Os tripulantes davam declarações e entrevistas durante o percurso – falavam com a família, mandavam pilhérias para os filhos e saudavam o povo norte-americano, e, em particular, o Presidente dos Estados Unidos. A nave espacial pousou perfeitissimamente, e com absoluta segurança. Depois de passearem por lá, recolherem amostras do seu solo e fincarem no chão a bandeira dos Estados Unidos, retornaram tranquilamente à terra, onde foram recebidos por milhões de americanos, nas ruas de Nova York, sob entusiástica aclamação.

Esse feito extraordinário, espantoso e, sobretudo, maravilhoso, até hoje não foi sequer imitado. E já são passados mais de 30 anos. A bandeira norte-americana continua sendo o único marco da chegada do homem ao nosso simpático satélite.

  1. Os americanos, seguindo o exemplo do Império Romano – que organizavam “expedições punitivas” para darem “uma lição” aos povos desobedientes – inauguraram a chamada política do “big stick”, ou seja, como dizia Theodore Roosevelt, “era preciso pedir sempre, mas com um grande cacete à mão”.

Seguindo essa sábia orientação, uma vez desobedecidos, bombardearam inclementemente o Vietnã durante anos. Alguns desatentos começaram a propalar que “os Estados Unidos perderam a guerra do Vietnã”, quando, na realidade, não houve nada disso. Com efeito, se quisessem, os americanos teriam jogado uma ou duas bombas atômicas e riscado do mapa aquele diminuto país, cujo povo resistiu heroicamente a milhares de bombardeios (convencionais). Quando resolveu, simplesmente suspendeu os bombardeios e fêz com que suas tropas retornassem, com fama de “derrotados”. Acontece que nessa famigerada “guerra” morreu um americano para cada 10 mil vietnamitas, o Vietnã ficou completamente arrasado, e, afora uns poucos soldados mortos, o povo norte-americano nada sofreu, e, muito contrário, saiu fartamente beneficiado com o incremento recebido pela indústria bélica.

  1. Diante da rebeldia do Noriega, os Estados Unidos invadiram o Panamá, carregaram-no preso para uma prisão, onde se encontra até hoje. E agora, no final do ano, olimpicamente, retiraram suas tropas de lá e devolveram-lhe o canal do mesmo nome.
  1. Agiram, também, com a mesma dureza e sob os mesmos métodos, na Bósnia, Iraque (onde morreram 74 americanos e cerca de 200 mil iraquianos), e, mais recentemente, em Kosovo, na Iugoslávia.

Fato bem interessante, e que vale ressaltar, é que em todas essas intervenções sempre apareceram outras “potências”, exigindo imperativamente que fossem suspensos os bombardeios. Tudo debalde. Ainda agora, na chamada “guerra dos bálcãs” a Rússia e a China impuseram energicamente que se parasse a agressão. Os russos chegaram até a mandar navios de guerra para “observarem”. Os americanos simplesmente despacharam a Ministra Madeleine para visitá-los, e conversar com eles, mas não deixaram de continuar os bombardeios nem por um minuto sequer. Ouvem esses queixumes “com atenção”, mas na mais absoluta indiferença.

Como, segundo bem dizia Cervantes, “a sabedoria consiste em se fazer hoje por bem aquilo que se poderá ser obrigado a fazer amanhã “, em todos esses atos os americanos nunca deixaram de receber o apoio entusiástico das “potências” caudatárias, e o mundo civilizado, em sua quase totalidade, já aprendeu a lição, passando a obedecê-los sem vacilações.

Este, sem dúvida alguma, foi o maior fenômeno do século 20, e, inegavelmente, do milênio. Muito embora, com justificado pudor, não se procure apontar isso, ninguém haverá de ignorar que nessa virada de século e de milênio, o mundo já tem dono.

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