Capítulos históricos

Uma das páginas mais belas da História da humanidade foi, inegavelmente, aquela escrita por Joana d’Arc, durante a guerra entre a França e a Inglatera, na Idade Média.

Dizendo-se porta-voz da vontade de Deus, saiu andando de localidade em localidade, carregando uma acha e a Cruz de Cristo. Levantou o povo francês, deu-lhe coragem e novo ímpeto, ocasionando sérias derrotas aos ingleses.

Joana d’Arc mandou uma carta aos lordes ingleses intimando-os, “em nome de Deus”, a desocuparem o território frances, sob pena de terem que arcar com a fúria divina.

Sendo, como era, uma humilde camponesa, sua carta e suas intimidações foram recebidas às gargalhadas pelos Lordes. Chamaram-na de bruxa quando, comandando uma pequena tropa, derrotou os ingleses, em número muito maior. O Duque de Bedford disse que a vitória foi obtida deslealmente, porque os franceses se utilizaram “de uma discípula do Tinhoso, que usou de falsos encantamentos e bruxaria”.

Posteriormente os próprios franceses venderam-na aos ingleses, que a submeteram a julgamento perante um Tribunal da Inquisição. Acusada de “ouvir vozes, ver visões, usar vestes masculinas, pôr o sinal da cruz e os nomes de Jesus e Maria em suas cartas”, acabou condenada a ser queimada viva, levando sobre a cabeça uma coroa de papel com as palavras “Herética, Relapsa, Apóstata, Idólatra”.

Sua pena de morte chegou a ser transformada em prisão, mas, como a encontraram “vestida como homem” em sua cela, executaram a sentença e a pobre camponesa, posteriormente canonizada pela Igreja Católica, sendo hoje uma de suas Santas, acabou na fogueira, e “a fim de impedir que o espírito de Joana contaminasse a França”, lançaram ao Sena as cinzas do seu corpo.

Enquanto isso, vejamos como procediam os nobres, naqueles tão gloriosos tempos.

Encontramos na História Universal de Oncken: “Uma mescla do artifício dos gregos com a ferocidade dos trácios definia o caráter da Corte. Com efeito, que espetáculo nos oferece Constantinopla? Maurício e seus 5 filhos assassinados; Focas assassinado como prêmio de seus homicídios e de seus incestos; Constantino envenenado pela Imperatriz Martina, a quem arrancam a lingua, enquanto se corta o nariz de seu filho Heracleonas; Constantino, que faz degolar seu irmão; Constâncio, asfixiado no banho por suas servas; Constantino Pogonato, que faz tirar os olhos de seus dois irmãos; Justiniano II, seu filho, pronto para fazer em Constantinopla o que Teodósio fêz em Tessalônica, surpreendido, mutilado e encadeado por Leôncio no momento em que ia fazer degolar os principais cidadãos; Leôncio, tratado logo como tinha tratado a Justiniano II; este Justiniano reposto no trono, fazendo correr ante seus olhos, em praça pública, o sangue de seus inimigos e perecendo, finalmente, sob a mão de um verdugo;

Filipo Bardano, destronado e condenado, a quem arrancaram os olhos; León Isaurio e Constantino Copronino, mortos, a dizer a verdade, em suas camas, mas sucedidos por reis sanguinários, tão infelizes para os príncipes como para seus súditos; a imperatriz Irene, primeira mulher que ascendeu ao trono dos Césares e a primeira que fez perecer seu filho para reinar; seu sucessor, Nicéforo, detestado por seus súditos, aprisionado pelos búlgaros, degolado, servindo de pasto às feras, enquanto seu crânio serve de copo a seu vencedor; finalmente, Miguel Curopalato, contemporâneo de Carlos Magno, trancado num claustro e morrendo assim menos cruelmente, mas mais vergonhosamente que seus predecessores. Assim é como foi governado o Império durante 300 anos. Que história de obscuros bandidos, punidos em praça pública por seus crimes, é mais horrível ou mais repugnante?”

Bem a propósito, vale relembrar que Jesus, falando aos discípulos do juízo final, quando a justiça de Deus “separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos”, pôs os encarcerados junto aos enfermos, aos desnudos, aos peregrinos, aos sedentos, aos famintos.

E disse: “Vinde, benditos de meu Pai, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; fui peregrino e me destes alojamento; desnudo e me vestistes; enfermo, e me visitastes; encarcerado e viestes a mim!”.

As palavras do Mestre continuam de uma atualidade impressionante. Passam-se os séculos e tudo continua na mesma, com o mundo esperando amor e caridade.

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