Contrastes atuais

Na segunda metade do século 19 e nas primeiras décadas do século 20 chegaram aqui milhões de imigrantes estrangeiros, vindos principalmente da Itália, Alemanha e Líbano.

Italianos e alemães aplicaram sua força de trabalho e experiência, adquiridas em suas pátrias de origem, e passaram a explorar a terra, plantando e cultivando com denodo e persistência.

Muitos morreram, vítimas de cobras e inúmeros animais ferozes, e, principalmente, das picadas dos mosquitos transmissores da malária, impaludismo e outras doenças próprias da região.

Os libaneses, comerciantes por vocação, saíam pelo interior com um baú na cabeça, carregando mercadorias das mais variadas espécies, vendendo de porta a porta. Eram chamados de “mascates” e durante muitos anos viveram “mascateando”. Com isso, a custa de muitos sacrifícios e poupança, conseguiram se estabelecer com um pequeno comércio, até se transformarem – muitos deles – em prósperos proprietários, industriais e fazendeiros.

Descendentes desses imigrantes acham-se instalados em inúmeras Cidades, por toda a vastidão do território pátrio. Se alguns se tornaram ricos, muitos se perderam pelo caminho, acabando mortos ou na mais negra miséria.

Se fizermos uma transposição dessas situações para a época presente, vamos observar que esse quadro seria totalmente inadmissível nos dias atuais.

No Brasil contemporâneo todos iriam acabar na criminalidade ou na cadeia. De acordo com a Lei, ninguém pode sair vendendo mercadorias sem estar devidamente registrado, sem tirar nota fiscal, sem cartão de identificação, ou seja, em resumo, sem ter firma organizada. Tampouco se permite que saia pela imensa extensão do território brasileiro para povoá-lo e explorá-lo.

É bem sabido que os proprietários dos maiores bancos brasileiros começaram com pequeno capital, adquirido paulatinamente, mediante empréstimos a um e outro, cobrando juros e fazendo reaplicações. Nos seus primeiros passos, atuavam pelas ruas, ou em pequenas “bancas”, como as de jogo de bicho, que se vê.

Com o passar do tempo montaram uma Casa Bancária, que mais tarde se converteu em Banco. E o Banco cresceu, agigantou-se, tornando-se sustentáculo da economia do País.

Acontece que no Brasil deste novo século e novo milênio, isso tudo seria absolutamente impossível. Qualquer um que sair por aí emprestando dinheiro a juros, procurando, dessas operações de crédito – atividade arriscadíssima, sem dúvida – tirar o necessário para seu sustento, de sua família, e visando a ascender socialmente, vai ser preso sumariamente, e talvez acabar a vida nos fundos de uma cadeia, condenado por agiotagem e crime contra a ordem financeira.

E mais: Há 40 ou 50 anos, brasileiros e imigrantes que tinham espírito aventureiro, muitas vezes vítimas de perseguição política ou acossados por um destino cruel, partiam para o norte e oeste do País, especialmente para a região amazônica, onde jazem imensas riquezas e terras vazias a serem exploradas. Enfrentaram a mata e as forças da natureza adversa. Se houve mortes e mais mortes, houve, também, alguns afortunados que sobreviveram e constituíram vilas, cidades e Estados florescentes.

Isso tudo, hoje, seria inimaginável. Levantamentos anunciados recentemente mostram que, antes de mais nada, onze por cento do território brasileiro pertencem a cerca de 330 mil índios, incapazes e impossibilitados de povoá-los.

Estão destinados a esses 330 mil índios cerca de 929 mil quilômetros quadrados, sendo 115 mil quilômetros quadrados identificados, 76 mil delimitados, ll mil demarcados, 143 mil homologados e 584 mil registrados.

Segundo o relatório publicado, “as áreas estão estrategicamente localizadas, abrigam grandes riquezas naturais, e, juntas, são maiores do que a soma dos territórios da Alemanha e da França”.

Qualquer um que se atrever a tentar povoar e explorar as riquezas desse imenso território, é sumariamente preso e algemado, se não for morto pelos índios ou pela Polícia, como tem acontecido comumente.

Em resumo: vivemos num País eminentemente burocratizado, com uma economia fechada. Todas as portas estão rigorosamente trancadas àqueles que não pertencem ao “clube” dos afortunados e donos das benesses e licenças concedidas pelo Estado.

Por isso o brasileiro, não encontrando espaço dentro de seu próprio País, ou parte para tentar a vida no estrangeiro, ou descamba para a atividade marginal.

Não é de admirar, portanto, o alto índice de criminalidade.

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