Defesa social

Estudos da psicologia do criminoso mostram, comprovadamente, as seguintes características:

  1. O criminoso é, antes de tudo, orgulhoso. 2. O homicida em geral é daquele tipo de gente que “não leva desaforo para casa”. Via de regra são pessoas que não procedem da maneira normal e própria do homem médio, reagindo a pequenos agravos com uma violência inusitada e desproporcional, agravando as situações e atraindo o crime. 3. O estupro costuma ser crime de impotentes; de homens feios; ou de portadores de deficiência física ou mental; ou daqueles que não sabem dialogar e atrair mulheres, seja devido à aparência, seja devido ao modo antipático de se aproximar e conversar.

Comentando acerca desses crimes em que o autor de uma tentativa de estupro mata a vítima com inúmeras facadas, Freud diz que se trata de um impotente, que, ansioso por enfiar algo duro na mulher, e, sentindo-se incapaz da ereção, enfia-lhe a faca repetidamente, até gozar. 4. Já os crimes contra o patrimônio são produto da inveja, da mania de grandeza e da ânsia de gozar as boas coisas da vida “de qualquer maneira”, “por bem ou por mal”.

Há, realmente, o criminoso ocasional – aquele que, muito embora dotado de personalidade pacífica e pacata, às vezes por fraqueza momentânea, ou levado pelas circunstâncias, cai nas teias do crime.

Mas, não há qualquer dúvida – e isso é opinião unânime na psicanálise criminal – que a característica principal, básica, fundamental do criminoso é o seu complexo de superioridade. O verdadeiro criminoso considera-se superior aos seus semelhantes, e acima da Lei. Basta dizer que quando comete o crime está afrontando a sociedade e a ordem jurídica.

Os criminosos são, de regra, homens corajosos, violentos, audaciosos. Tanto assim que na época da Segunda Guerra Mundial muitos deles foram soltos na França e na Inglaterra, especialmente, para lutarem pela Pátria, e praticaram atos de heroismo excepcional .

Por isso o criminoso aparece sobranceiro perante a imprensa e as redes de televisão. Muitos deles não se declaram arrependidos, e dizem firmemente que “fariam tudo de novo”. Quanto maior o estrépito publicitário, mais felizes se sentem. Guardam, com orgulho, todas as notícias que saíram a respeito do crime, e, especialmente, suas fotografias nos jornais.

Muitos crimes têm sido elucidados porque o agente, após ter sido autor de rumoroso homicídio, furto, roubo, ou estupro, vai para os bares ou “rodinhas de cerveja” para se gabar com os amigos e companheiros que foi ele mesmo que matou e esquartejou fulano de tal; ou estuprou dezenas de mulheres; ou roubou o Banco.

Aliás, os ladrões, principalmente, são facilmente encontráveis, porque em pouco tempo começam a gastar desbragadamente, esbanjando dinheiro a rodo com bebidas, drogas e mulheres. Ou passam a frequentar hotéis e restaurantes de luxo, exibindo “sua fortuna”.

Ao contrário do criminoso ocasional, que sofre o drama do arrependimento e suporta todas as humilhações do processo, da condenação e da pena, o criminoso profissional faz questão de não apresentar arrependimento algum.

Custa a entender como se pode querer sensibilizar homens violentos, de personalidade forte, e, sobretudo, vigorosos e atrevidos, humilhando-os e maltratando-os. Tratá-los com dignidade, respeito e consideração não significa apenas pensar em “direitos humanos” e defender autores de crimes hediondos. Quem assim procede estará agindo sobretudo em defesa da sociedade. Nada mais do que isso.

Bem apropriadas são as palavras de Carnelutti, analisando o problema penal, quando diz:

“Ir até os réus é a solução do problema. Não fugir deles; mas correr a seu encontro, como São Francisco. Não mirá-los de cima para baixo, mas descer do cavalo e adaptar-se a eles, como São Francisco. Não fixar os olhos em sua deformidade; mas afastar a vista, como São Francisco. Não tapar a cara, por temer o contágio; mas beijar-lhes na cara, como São Francisco. Não detestá-los como inimigos, não dar-lhes chibatadas como a cachorros, não pôr-lhes ao pescoço a campainha do leproso. Sua enfermidade não é mais do que fome e sede, frio e solidão. O alimento, para tirar-lhes a fome, a água, para tirar-lhes a sede, o tecido, para vesti-los de novo, a casa, para alojá-los, é nosso amor. O antídoto contra o mal é o bem. E esta medicina milagrosa não é daquelas que os homens devam buscar com fadiga ou pagar a peso de ouro; não é necessário, para ser encontrada, mais do que amor.

Por isso, na luta contra o crime, é fácil conquistar a vitória, sempre que os homens escutem a última palavra do Mestre: amais como eu os tenho amado!

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