Expedições punitivas

O Império Romano, naqueles gloriosos tempos, estendia-se do Oriente Médio até a Península Ibérica, tendo abrangido, durante certa época, até mesmo a Inglaterra.

Impossibilitados de colocar tropas aquarteladas em toda essa imensa extensão, para garantirem seu Poder, os romanos designavam um “Cônsul” para cada localidade (basta relembrar que na época da condenação e execução de Cristo quem representava Roma em Jerusalém era o Cônsul Pôncio Pilatos).

Os povos dominados e escravizados pela espada romana eram obrigados a seguir, rigorosamente, a orientação do Cônsul, que falava em nome de Cesar e do Império.

Esse Cônsul não dispunha, ali, de tropas suficientes, à sua disposição, para impor suas decisões e sua vontade. Acontece que se houvesse qualquer desobediência ou desrespeito às suas ordens, isso significava uma afronta a Roma e ao Imperador.

Se chegasse a Roma a notícia dessa rebeldia do povo subjugado, o Cesar, irado e ultrajado, determinava na mesma hora o envio de uma “expedição punitiva”.

Seguia para lá um batalhão do Exército, que invadia toda a região e punia implacavelmente os desobedientes: centenas e milhares eram mortos e esquartejados, para que a exposição das partes dos seus corpos servisse de advertência para o povo em geral.

Mas não eram castigados apenas os supostos autores do crime de “lesa-majestade”. Toda a Cidade sofria a pena: casas e monumentos eram destruídos, poços d’água envenenados, represas e barragens derrubadas. Tudo que se referia a serviço público ficava inutilizado.

Sufocada a rebelião e executados sumariamente os que tiveram a audácia de desrespeitar o Cônsul – símbolo do Poder romano – bem como seus parentes, amigos e suspeitos, o exército retornava à sede do Império, permanecendo, no entanto, pronto para outra expedição punitiva, se necessária.

Em sua marcha vitoriosa, de regresso, carregavam, dentro de uma jaula, o rei e demais chefes rebeldes, desfilando com eles pelas ruas de Roma. Depois eram submetidos a julgamento pelos Tribunais romanos, tornando-se escravos, ou mortos em praça pública.

O exemplo romano frutificou através dos tempos, tendo atravessado, pode-se dizer, todo o século 20, e tudo indica que entrará pelo século 21 afora.

No tempo em que era Império, a Inglaterra despachou expedições punitivas para várias partes do mundo, especialmente Ásia e Oriente Médio.

Registra a História que diante da desobediência da Dinamarca, os ingleses despacharam uma frota de centenas de navios, que se postou diante de Copenhague, passando a bombardear a cidade, seguidamente, e sem interrupção, por dias seguidos, até que seu povo se dobrasse às suas ordens.

Não é diferente do que se passa atualmente, com o Império norte-americano. Só que agora quem transmite as ordens do Cesar não é mais um cônsul, mas um Embaixador. Ou as ordens são dadas via fax.

Nestes últimos anos presenciamos o despacho de expedições punitivas para Granada, Somália, Panamá, etc., e principalmente para o Iraque. No caso do Panamá, igualzinho como na Roma antiga, o Presidente daquele pequenino e minúsculo país, foi carregado para os Estados Unidos, onde, após julgamento “à moda da casa”, acabou condenado e acha-se preso, cumprindo pena.

A única diferença entre o que os romanos faziam e o que se faz hoje está apenas na designação. Agora fala-se em “guerra”: guerra do Panamá, guerra de Granada, guerra da Somália, guerra do Golfo, etc., enquanto, naqueles tempos remotos e atrasados, falava-se de “expedição punitiva”.

Custa a entender-se que espécie de guerra seria essa: no Panamá morreram cerca de 200 mil panamenhos e, no máximo, vinte americanos; no Iraque, na chamada “guerra do Golfo”, morreram, também, cerca de 200 mil iraquianos, e apenas 34 americanos – sendo que quase todos foram vítimas de desastres causados por eles mesmos, ou vítimas do chamado “fogo amigo”.

Finalmente, nestes últimos dias, todo o mundo presenciou o bombardeio impiedoso do Iraque: navios situados a 40, 50 quilômetros da costa atiravam mísseis e mais mísseis sobre Bagdá; aviões super-poderosos, dotados de recursos da mais avançada tecnologia, bombardearam incessantemente populações indefesas de um País pobre, fraco e faminto.

Parece realmente incrível que um povo culto, empreendedor e realizador como o norte-americano seja capaz de confundir uma simples “expedição punitiva”, própria da barbaridade dos romanos, com “guerra”. Porque, na verdade, como muito bem dizia o Conde de Bismark – e isto ficou provado, mais uma vez, agora – “direito internacional é a boca do canhão”.

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