Princípio de século e de milênio

Neste princípio de século e de milênio, ninguém poderá deixar de reconhecer o papel predominante e, pode-se dizer, oracular, dos Estados Unidos da América do Norte.

Seus costumes, suas idéias, seus exemplos, são seguidos por quase todos os países do mundo, que, como medida de bom senso, seguem seus conselhos, sua orientação, e, sobretudo, suas ordens, sem titubeios nem vacilações.

Aliás, os filhos daquela grande e poderosa Nação já nem sequer se definem como “estadunidenses” ou “norte-americanos”, mas, simplesmente como “americanos”. Consideram que América do Norte, América do Sul e América Central são conceitos ultrapassdos, e que hoje existe apenas a América, sob o domínio e comando absolutos do “big brother”.

Para isso vêm criando o conceito e a filosofia de um estado multirracial, multilíngüe, multicultural, e, sobretudo, cosmopolita, sob as diretrizes supremas dos “eleitos do Senhor”, ou seja, deles mesmos.

Sua influência não se manifesta apenas através do imenso e inconstratável poderio militar, mas, principalmente pela utilização maciça dos meios de comunicação – rádio, jornais, cinema, televisão, literatura, educação, religião, etc.

Bem a propósito, a imprensa francesa, com a mordacidade que lhe é peculiar, enfatizou: “A idéia de guerra se tornou inconcebível para os países desenvolvidos. A guerra é impensável. Ou melhor, estamos dispostos a fazer guerra com uma condição: que nenhum de nós morra. Essa idéia é coerente com a tendência geral da civilização “diet coke”: queremos açúcar sem calorias, manteiga sem gordura, nascimento sem dores do parto, morrer sem sofrer. Então, por que não a guerra sem morrer? A supressão da negatividade, luz sem trevas, é o estranho sonho novo de nossa civilização. É nossa ilusão fatal”.

Nesse quadro, pode-se dizer, surrealista, foi divulgado recentemente que nos Estados Unidos há 38 Estados onde se adota a pena de morte e apenas 13 que proibem a execução de deficientes mentais. Lá, há atualmente 300 deficientes mentais no corredor da morte, registrando-se um total de 3.726 execuções.

Sob o risco de incorrermos em sacrilégio, blasfêmia, heresia, apostasia ou algo semelhante, poderíamos dizer que isso nos faz lembrar a teoria de Hitler, naqueles tempos anteriores ou contemporâneos à Segunda Guerra Mundial, quando prescrevia e determinava a extinção dos chamados “seres inúteis”: velhos, aleijados, viciados, ébrios habituais, oligofrênicos, esquizofrênicos, débeis mentais, e, finalmente, loucos de todos os gêneros.

Enquanto isso mostra-se uma civilização permissiva, estimulando-se e incentivando-se a violência, os abusos sexuais e a criminalidade, principalmente em todos os meios de comunicação social, e, em particular, nas cenas de televisão.

A sexualidade desenfreada estimulada abertamente, vem acarretando escandaloso número de estupros, sendo que, em muitos casos, a mulher prefere silenciar, sujeitando-se, calada, à humilhação e à violência. Esse enorme número de vítimas não entra nas estatísticas oficiais.

Que diferença daquela época, daqueles saudosos tempos, em que Santo Agostinho condenava o prazer sexual até no casamento, pregando que “marido e mulher deviam cobrir-se inteiramente na hora da união íntima, deixando apenas duas aberturas adequadas ao ato de procriação”.

Nesse contexto vale à pena relembrar Moleschott fazendo um paralelo entre o assassino e o juiz, e encontrando este último mais culpado do que o primeiro: “Que relação há entre o indivíduo, cego pela paixão, que comete um assassinato, e a calma dum Tribunal, que, sem obter uma vantagem moral, qualquer que seja, se vinga dum crime pela morte?” Comparando, por sua vez, o assassinato cometido pelo criminoso ao “assassinato cometido pelo carrasco” não encontra entre eles nenhuma diferença, se não jaz a abstração da utilidade social. “O último crime não tem mesmo por circunstância atenuante alguma razão de interesse pessoal ou de vingança; o homicídio legal torna-se mais completamente absurdo que o homicídio ilegal”.

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