Salomão

Não se precisa ter a sabedoria de Salomão para saber-se que os fenômenos econômicos desenvolvem-se em cadeias. Estão interligados como uma grande corrente de elos inseparáveis. Mas, de nada adianta uma enorme corrente de aço com um simples elo de seda. Não se pode estancar as causas pelos efeitos.

Há muitos anos, em pleno apogeu do regime getuliano, quando cobravam do simpático velhinho a promessa feita eloqüentemente nas praças públicas do quilo de carne a 5 cruzeiros, como a inflação, a desordem financeira e a escassez de produção a tudo encareciam, inventaram os seus técnicos e assessores a genial saída da criação de uma Delegacia de Economia Popular com os Júris de Economia Popular.

Lembramo-nos muito bem que todos os jornais da época abriram as manchetes noticiando às largas o surgimento da sonhada era dos preços baixos, com a constituição de um Tribunal Especial, integrado por chefes de famílias e donas de casa, em que seriam julgados os altistas, cognominados de exploradores do povo e da humanidade.

O Decreto foi assinado num dia 1º de maio, sob as clarinadas altissonantes e o trombeteada propaganda oficial anunciando-se o princípio de uma nova era, o iniciar de um século de luzes.

Realmente prenderam uns dois ou três portugueses no Rio e aquelas bigodosas figuras apareceram em fotografia nas primeiras páginas dos noticiários, e tiveram seus nomes veiculados pelos brasis afora.

Submetidos a julgamento uns foram condenados, outros absolvidos. No princípio as multidões se entusiasmaram. Mas, na quietude do seu comportamento os populares foram entendendo que por mais que prendessem e por mais que trancafiassem, os custos das mercadorias prosseguiam em sua marcha para o infinito. Sempre subindo.

O mesmo se pode dizer com relação à reforma agrária, que já era cogitada, discutida e reivindicada desde as Capitanias Hereditárias. Efetivamente, já naquela época foi baixado um Provimento determinando a distribuição de sesmarias aos colonos.

Eis que, passados alguns séculos, no Governo João Goulart, em 1962, foi criada a SUPRA – Superintendência da Reforma Agrária, que resolveria, definitivamente, o tormentoso problema. Não atingindo seus elevados objetivos, em 1964, no Governo Castelo Branco, surgiu o Estatuto da Terra, partindo da idéia do saudoso Deputado Fernando Ferrari.

Depois veio o IBRA – Instituto Brasileiro de Reforma Agrária; em seguida o INDA – Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, e o GERA – Grupo Executivo da Reforma Agrária.

Em 1970, numa explosão de felicidade e auspiciosas perspectivas, criou-se o INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, que subsiste até hoje, tendo absorvido e centralizado as funções de todos os órgãos precedentes.

Tudo isso fez surgir o atual MST – Movimento dos Sem Terra, que, após tantas e tantas transformações burocráticas, resolveu partir para situações de fato.

O povo, de longa data já compreendeu a inutilidade e ineficácia de medidas violentas para solucionar problema sócio-econômico. As massas recebem até com deboche e escárnio as novidades de prisões de invasores, que no outro dia são soltos, para prosseguirem na mesma caminhada.

Em boa hora escolhemos o caminho mais adequado ao nosso passado e às nossas tradições cristãs: mudança de moeda, obediência cega às determinações do FMI e liberação total dos preços. Com isso, são estimulados os produtores, de maneira integral e revolucionária. E com isso impediu-se de ingressarmos naquela fase da História Russa em que de intervenção em intervenção foram parar no comunismo total, com o Estado sendo o único e absoluto patrão, contratando os empregados, desapropriando as terras, controlando a produção e dali entregando diretamente ao consumo, sem intermediários e sem a cupidez comercial.

Acontece que no Brasil verde-amarelo e de origens cristianíssimas, em cujas páginas imorredouras de sua descoberta foi sacrificado até o Bispo Sardinha, vítima da ignorância e da antropofagia, não se poderia admitir, em hipótese alguma, qualquer implantação comunistófila. Além do mais, os soviéticos, depois de longos anos de intervenção estatal extensa e intensa, chegaram à conclusão que os métodos democráticos são mais práticos e eficientes.

Estes são os exemplos históricos, e esta a nossa opção, consubstanciada em centenas de medidas provisórias. E, como dizia Rui, “fora da Lei não há salvação”.

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