Influências nefastas

Numa época em que o problema do menor avulta, assumindo proporções verdadeiramente catastróficas, vale relembrar um padre admirável, D. Bosco, que, na Itália, penetrado dum amor infinito pela infância pobre e abandonada, passou a recolher em asilos, em oficinas de trabalho, milhares de crianças perdidas e famintas, que teriam podido tornar-se más pessoas; criou oficinas de trabalho para menores delinquentes, e seu exemplo espalhou-se por todo o mundo, dando frutos até hoje.

Já naquela época D. Bosco entendia que o contágio do vício, resultante dos maus exemplos, é uma das grandes causas da criminalidade dos menores, e, em seguida, dos maiores – quando, logo em seguida, atingem a maioridade. Por isso cuidava de afastá-los do ambiente corrompido que frequentavam, levando-os para a educação e o trabalho.

O homem que está corrompido procura corromper os outros, a mulher que tem maus costumes tem um prazer maligno em tornar semelhante a ela a mulher honesta que tem a imprudência de freqüentá-la. É-lhe penoso sentir-se desprezível, e lhe parece mais fácil suportar sua vergonha, se ela a divide com outras. O mal tem uma força impressionante de propagação, tanto o homem perverso procura expandir sua perversidade; aí está um fato de observação, que os magistrados têm constantemente ocasião de constatar nos processos criminais. Quando um crime é cometido por vários acusados, não é raro encontrar um chefe de bando, um instigador que convenceu os cúmplices a seguí-lo. Sua influência é notória.

A Polícia prende constantemente velhos reincidentes que viajam com jovens que estão sendo depravados. Nos colégios mesmo, não basta alguns maus sujeitos para perverterem um grande número de jovens? Já está mais do que provado e comprovado que os culpados experimentam um prazer maligno em fazerem cúmplices, e crianças inexperientes adoram se entregarem a miseráveis companhias.

Mesmo em homens adultos o exemplo é contagioso. Não se vêem os exemplos das classes superiores serem imitados pelo povo? Eurípedes, Cícero, Seneca tinham assinalado esta tendência do povo em imitar os grandes.

No § do livro III das “Leis”, Cícero se exprime nestes termos: “Ainda que as faltas dos primeiros do Estado sejam já por si mesmas um grande mal, seu maior mal é que eles têm numerosos imitadores. Vós podeis ver, se desejais interrogar o passado, que tal como têm sido os dirigentes da cidade, tal tem sido a cidade mesma; e que toda alteração que se tem operado nos costumes dos primeiros cidadãos tem sido seguida duma alteração semelhante nos do povo. Também, os grandes que têm vícios são tão mais funestos à república não apenas por terem contraído estes vícios, mas por expandí-los na cidade; prejudicam não apenas porque são corrompidos, mas porque corrompem; e seu exemplo faz mais mal do que sua falta”.

Estas judiciosas reflexões são confirmadas pela história. Sob as antigas monarquias, o exemplo do soberano tinha uma influência imensa, tanto ele achava imitadores na corte como na cidade. Foi assim que os escândalos dados pela realeza contribuíram poderosamente para a corrupção na França, e por consequência para a decadência, porque a corte imitou o rei e ela por sua vez era imitada pela burguesia. As desordens do regente tiveram também imitadores, “a tal ponto que o incesto, presumido na alcova real, fez surgir, diz-se, incestos numa sociedade depravada até à infâmia”.

“Antes de todas as coisas, diz Plutarco, é preciso que esses pais se cuidem bem de cometer alguma falta ou de omitirem alguma coisa que pertence a seu dever, a fim de que eles sirvam de exemplo vivo a seus filhos, e que olhem para sua vida como diante de um claro espelho, se abstendo, com o seu exemplo, de fazer e de dizer coisas que sejam vergonhosas… Lá onde os velhos são desonrados, é bem natural que os jovens sejam de todo descarados”.

Juvenal escreveu uma sátira notável, a 14ª, sobre a alma da criança. “Abstenha-te, diz ele, de toda ação condenável, para preservar do contágio aqueles que nos devem a vida; pois que nascemos todos imitadores dóceis da corrupção, da perversidade… Mais eficazes, mais prontos a nos corromper são os maus exemplos domésticos, quando penetram a alma através do ascendente dotado de autoridade”.

Numa de suas Epístolas, acentuava sabiamente Seneca que “o caminho da doutrina é largo; breve e eficaz, o do exemplo”.

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