Talvegues

Uma firma comercial ou industrial que se dedique a qualquer ramo de exploração, ao ver as suas vendas fracas, movimento parado e as dívidas se amontoando, obviamente tem dois caminhos a seguir: ou diminui as despesas, dispensando empregados e apertando extremamente o cinto até estabilizar a balança de pagamentos e poder desenvolver-se; ou, por outro lado, lança-se arrojadamente em novos empreendimentos, levantando empréstimos e aplicando-os com raciocínio e segurança em bons negócios, muito bem planejados e executados.

O primeiro caminho é medíocre, diminuto, mesquinho. Numa empresa particular dirigida por um homem sem ambições ou de objetivos limitados, ainda poderá dar resultado de certa forma compensador. Mas, num pais, numa nação de milhões de almas essa política gerará o desassossego, a intranqüilidade, a fome, o desemprego.

Significará uma administração estacionada, perplexa, aguardando o orçamento equilibrar-se para começar novas obras; esperando a moralidade nos quadros funcionais, para reestruturar suas bases, tartarugando monotonamente pelo avançar dos séculos.

A segunda hipótese é a mais conveniente para os povos e está corporificada nas administração impetuosas. São aqueles que seguem o exemplo de Rotschild, quando dizia que se transformou numa das maiores fortunas do mundo, “porque nunca teve medo de dever”.

Formam-se as construções num atoleiro de déficit e de créditos de um lado para outro. O resultado econômico permanece, oportunidades de emprego são oferecidas – depois vem a luta para os pagamentos, que são dilatados, protelados, mas um dia não deixam de ser liquidados.

Todos os grandes governos da história universal obedeceram a esse padrão de coragem e destemor. Mussolini pegou a Itália mergulhada numa inflação impressionante, desagregada e decomposta em todos os seus setores governamentais. Buscou dinheiro de impostos, auxílios e empréstimos, mas fez as obras da Via Pontina, que até hoje merecem admiração de todos que contemplam extensos pantanais onde só se gerava a febre amarela, tornados campos produtores de milhões de toneladas de cereais.

A compra do Alaska, as obras grandiosas do Vale do Tennessee, a construção do Canal do Panamá, tudo isso foi arrecadado com atrevimento e ousadia pelo povo norte-americano, que não ficou esperando as coisas melhorarem para tomarem suas atitudes.

Nos séculos mais de antanho a nossa querida metrópole Portuguesa não dispunha de dinheiro, nem de habitantes para a colonização de uma região imensa como a descoberta pelo Cabral. No entretanto lançou-se na empreitada, alcançando largos lucros, representados nas montanhas de ouro de Minas Gerais, transferidas para as paredes dos palácios, as jóias das marquesas e os gastos fabulosos nos bordéis da Lisboa antiga.

Mustafá Kemal Ataturk enfiou-se pela ocidentalização da Turquia e sua modernização, sem dinheiro, com dívidas até o pescoço, numa sociedade degenerada e decomposta. Atingiu seus objetivos.

Nasser, ousadamente, construiu a barragem de Assuã, uma das maiores obras de todos os séculos, de todos os tempos, em todo o Universo terráqueo. Com ajuda, auxílios, sacrifícios, ergueu algo que até hoje ocasiona respeito e admiração aos visitantes e turistas em geral.

Estes é que são exemplos formidáveis, dignos de serem seguidos e imitados. Até mesmo no Brasil, neste Brasil brasileiro, fizemos Brasília.

O Governo do Sr. Juscelino Kubitschek arrancou até as pelancas do brasileiro, concentrou os esforços duma Nação em setor que reputamos protelável, pois aquilo deveria ter sido aplicado em obras de caráter facilmente reprodutivo; ninguém pode negar, no entretanto, que aquela Capital corporifica o espírito criador e a ação de 180 milhões de almas, concentradas num objetivo.

Aqui estão, também, os exemplos da Petrobrás, Vale do Rio Doce e Volta Redonda, principiadas sem dinheiro, sem perspectivas, sem a solidez dos grandes e poderosos capitais, mas que atualmente estão coroadas de êxito, numa riqueza prodigiosa em expansão, tanto no que significam econômica como financeiramente.

A propósito, bem dizia Shakespeare que “a coragem cresce com a ocasião”.

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