A luta dos partidos

Dá-se no partido político a associação de várias pessoas que têm as mesmas concepções ideológicas e doutrinárias sobre a forma ideal de sociedade e do Estado. Essas pessoas se unem e se organizam para a luta pelo poder. Elaboram um programa, no qual anunciam publicamente seus propósitos, e se institucionalizam visando a conquista do Estado.

Teoricamente esse seria o fundamento básico dos partidos políticos e a sua mecânica de atuação. Na realidade prática, entretanto, tudo funciona de modo muito diferente. Sobretudo no nosso País.

Elaborado o programa, obtido o registro provisório na Justiça eleitoral pela apresentação do número mínimo de requerentes e atendimento dos requisitos constantes da Lei Orgânica dos Partidos Políticos, parte-se para a filiação e para o árduo e penoso trabalho de organização dos Diretórios Municipais, Estaduais e Nacional.

Todos os membros do Partido deveriam, em princípio, ser favoráveis às diretrizes traçadas no “Programa” e demonstrarem coerência e fidelidade a esse programa. Isso de fato existe em países de tradição democrática, onde há vida partidária consolidada, tais como Estados Unidos, Inglaterra, França etc. Lá os Deputados eleitos pelos partidos de “direita” mantêm a firmeza de suas convicções conservadoras em todas as votações e durante todo o curso do seu mandato; no mesmo passo, os de “esquerda”, que estão sempre lutando por suas teses avançadas e reformistas. E assim sucessivamente.

Não se observa essa praxe na vida político-partidária brasileira, onde o cidadão é eleito por um Partido dito de esquerda e se comporta como um conservador; e vice-versa.

Aqui o que menos vale é o programa político-social do Partido. Sobrepõe-se a tudo a aspiração de conquistar o poder. A todo custo e a qualquer preço.

A luta entre os partidos políticos trava-se normalmente, e tradicionalmente, no curso da história da humanidade, entre três tendências da sociedade: uma, a direita conservadora, tradicionalista, a favor da manutenção do “status quo” (ou seja, das coisas como estão); outra, a esquerda reformista, lutando por transformações na estrutura social, defendendo interesses de minorias discriminadas e querendo diminuir os desníveis existentes na sociedade; e uma outra, ainda, centrista, procurando um ponto de equilíbrio entre os dois pólos, isto é, tentando manter as estruturas existentes, mas admitindo algumas reformas e inovações.

Essa luta é permanente e terrível. Desenvolve-se dia a dia através de manifestações na imprensa, no Parlamento, reuniões, comícios e mesmo conspirações e agitações.

Para se ter uma idéia do gigantismo dessa luta partidária basta lembrar o “escândalo Watergate”, nos Estados Unidos. Lá, na maior democracia do mundo foram presos espiões do Partido do Governo fazendo sabotagem, durante a noite, na sede do partido da oposição. Usavam, também, da mais sofisticada tecnologia, só colocada à disposição do Estado, para espionagem.

Nos países do terceiro mundo – inclusive o nosso – trama-se dia e noite algum golpe ou quartelada para assumir o Poder; ou fraudes eleitorais; ou novas Leis casuísticas que embaracem e dificultem de toda forma a vitória dos adversários.

A democracia só é possível com partidos fortes, bem estruturados e dirigidos por uma fidelidade sadia.

Na democracia a liberdade é mais ampla, o que enfraquece o Estado, mas desoprime o indivíduo. Ela mesma proporciona todas as condições aos seus inimigos para falarem e conspirarem, criando clima para a implantação das ditaduras.

A corrupção parece ser maior na democracia do que nas tiranias, quando na verdade o que acontece é que nas ditaduras o segredo é bem guardado, enquanto nos regimes democráticos os escândalos vêm à tona com a maior facilidade.

A democracia é complacente, transigente, tolerante, não exige mais do que um certo respeito. Não impõe nem exige louvores a si mesma. Sua majestade vem da simplicidade e não da pompa.

O exercício da democracia exige mais do que o mero respeito à Lei. Tem que resultar do amadurecimento intelectual do povo e de suas lideranças, criando novas concepções e uma verdadeira filosofia de vida democrática.

Esta é a grande e imensa tarefa dos partidos políticos, que precisam sair da vulgaridade das conspirações, dos casuísmos e da destruição recíproca e procurarem em suas lutas, manterem sempre uma filosofia de vida democrática.

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