A Síndrome do Caranguejo

Foi lançado há poucas semanas, aqui em Vitória, o interessante livro “Desta terra sem par… ou A síndrome do caranguejo”, de Carlos Augusto Salles.

Carlos Augusto Salles nasceu aqui em Vitória, filho de tradicional família serrana. Ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro (naquela época Capital do País), quando seu pai se elegeu Deputado Federal, lá pelos idos de 1950.

É filho do saudoso Advogado e brilhante político, Eurico de Aguiar Salles, figura das mais extraordinárias da vida pública brasileira. Chegou a ser Ministro da Justiça e Diretor da SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito – que desempenhava as atividades atribuídas atualmente ao Banco Central. Em todas as relevantes funções que exerceu teve um comportamento impecável e inatacável. Homem competentíssimo e de uma seriedade a toda prova. A propósito, vale relembrar que, na época, Carlos Lacerda dizia que Eurico Salles era o único Ministro honesto do Governo Kubitschek. Essa observação tem muito valor porque Carlos Lacerda, crítico contumaz e violentíssimo de tudo e de todos, não era habituado a elogiar alguém.

Carlos Augusto, portanto, estudou no Rio. Com o falecimento do seu pai, que morreu pobre, ingressou como funcionário na Casa da Moeda, e, depois, na Xerox, onde, de passo a passo, ascendeu profissionalmente, até chegar à Presidência, no Brasil, de tão poderosa empresa multinacional.

Seu livro, escrito num estilo simples, objetivo e claro, de fácil entendimento, apresenta aspectos extraordinários, valendo destacar:

  1. Nota-se seu profundo amor ao Espírito Santo, sua terra natal. Faz um retrospecto histórico com base numa rica pesquisa, em que nos fornece informações e dados preciosos.

É graças a esse maravilhoso sentimento capixaba, que hoje vemos a Xerox instalada em portentoso edifício ali em frente à UFES, desenvolvendo tecnologia de ponta.

Aliás, lembro-me muito bem que nos idos de 1994, quando pensamos em editar nosso “Diário da Justiça” e vimos, na exposição de informática em São Paulo, uma magnífica impressora no stand da Xerox, que podia ser tocada por 15 pessoas, no máximo, a custo baratíssimo, procuramos nos informar a respeito. Após os primeiros contatos com funcionários da empresa, recebemos a visita do Carlos Augusto, que nos disse que aquela maravilhosa máquina ainda não havia sido lançada no Brasil, mas que mandaria buscar uma nos Estados Unidos, especialmente para o Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Dito e feito. Tudo correu a tempo e a hora. E só assim conseguimos ter nosso Diário, com nossas próprias publicações, que até hoje atende às necessidades da Justiça.

  1. Mostra-se profundo conhecedor dos problemas nacionais. Dotado de extraordinário senso de observação e de análise, lança, no livro, suas conclusões, após íntima convivência com economistas, empresários e administradores de todo o mundo.

Criticando aquilo que resolveu designar como “síndrome do caranguejo”, que é a preocupação obsessiva de se gerar o pessimismo no nosso País, em certo trecho de sua magnífica obra, encontramos o seguinte: “Participei, há menos de um ano, de um fórum de debates em São Paulo onde um conhecido homem de imprensa, discursando em tom dramático, nos informou que, em matéria de má distribuição de renda, o Brasil era vice-campeão mundial. Perdia apenas para Serra Leoa. Não me contive e perguntei se poderia ter acesso aos detalhes da pesquisa que produzira tal informação. O cidadão gaguejou, disse que não era bem uma pesquisa, mas tão-somente um estudo feito por alguns cientistas mediante extrapolação de dados, e foi por aí afora tentando apagar a certeza da audiência de que ele acabara de inventar uma informação só para sublinhar o seu recado sobre as mazelas brasileiras.

Qual não foi a minha surpresa quando, na edição de 20 de outubro de 1999 do jornal “O Estado de São Paulo”, encontrei artigo, onde a tal comparação com Serra Leoa aparece de novo. Incrível como se gosta de repetir besteira.

A CNBB primeiro disse que o Brasil tinha 64 milhões de miseráveis. Dois anos depois, refez seus cálculos e baixou para 32 milhões e, mais recentemente, convocou à discussão do drama de 16 milhões de brasileiros que vivem na pobreza absoluta. Nunca vi uma melhora social tão gigantesca em tão pouco tempo”.

Resumindo: o livro de Carlos Augusto Salles é atual, realista, e riquíssimo de informações. Está de parabens o autor, e, com ele, a literatura capixaba. Vale a pena lê-lo e degustá-lo.

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