Coincidências

Foi amplamente divulgado pela imprensa um caso curioso ocorrido com um brasileiro nos Estados Unidos da América do Norte – a maior democracia do mundo.

Trata-se de um cidadão respeitável que, indo fazer turismo por lá, achava-se, com sua família, na fila de embarque para retornar ao Brasil.

Eis que ao ter que se sujeitar a tantas vistorias, exames e reexames, tanto em seu corpo como em sua bagagem, houve uma hora em que o vigilante fiscal americano perguntou o que havia dentro de uma sacola que carregava consigo – bagagem de mão. Foi aí que o pobre brasileiro teve a infeliz idéia de jocosamente dizer, a título de pilhéria: “uma bomba”.

Dada a voz de prisão pela “otoridade”, muito embora tenha constatado logo depois que naquela bolseta não havia nada, mas apenas escova de dentes, dentifrícios, e outros objetos de uso pessoal, e, não obstante todas as explicações dele, de sua família e dos companheiros de viagem que tudo não passara de simples “brincadeira” de brasileiro, aquele nosso conterrâneo foi imediatamente algemado nas mãos e nos pés, carregado aos trancos e barrancos para dentro de uma viatura policial e transportado para a prisão, onde permaneceu por cerca de 20 dias. Só foi solto, após constituir advogado, mediante o pagamento de uma fiança de vinte mil dólares, arbitrada por um Juiz.

Enquanto isso encontramos, ainda, na imprensa, duas notícias bastante curiosas.

Se não, vejamos:

  1. O Ministério da Justiça vai notificar dois comissários de bordo da empresa americana American Airlines acusados de crime de preconceito para que eles prestem depoimento no Brasil.

Shawn Tipton Scott e Mathew Gonçalves são acusados de intimidar e insultar o passageiro Nelson Márcio Nirenberg durante um vôo de Nova York para o Rio, em junho de 1998.

Scott é acusado de ofender a população brasileira ao dizer a Nirenberg, segundo a Promotoria: “Amanhã, vou acordar jovem, bonito, orgulhoso, rico e sendo um poderoso americano. E você vai acordar como safado, depravado, repulsivo, canalha e miserável brasileiro”.

As ofensas teriam acontecido por causa do assento que Nirenberg ocupava. Após o embarque, com 17 horas de atraso, Nirenberg foi abordado pelo comissário, que ordenou que abandonasse o lugar sem dizer o motivo. O passageiro recusou.

Quando o avião já sobrevoava território brasileiro, os comissários abordaram o passageiro. Foi então que Mathew Gonçalves teria tentado agredi-lo fisicamente, enquanto Scott fazia ofensas, segundo o passageiro.

Após o avião aterrissar, a Polícia Federal levou os comissários para depor, mas liberou os dois em seguida. Nirenberg entrou com uma ação na Justiça e obteve o direito a uma indenização (FSP – 17.8.2002).

  1. A produtora de moda Elenice Drewanz, 35, sofreu torção no pescoço no vôo 8725 da Varig, que chegou anteontem à noite ao Aeroporto Internacional do Rio (zona norte), vindo de Paris. A Polícia Federal indiciou o turista francês Cyril Alexandre Savtchenko Belsky, apontado como agressor da passageira.

Ao recostar repentinamente a poltrona, segundo a PF, Elenice causou a queda do copo do francês, sentado atrás do marido dela, o jornalista Adriano de Martini.

Por volta das 5,30, segundo Martini, 39, Belsky empurrou bruscamente e deu socos e pontapés na poltrona de sua mulher, o que teria causado a torção no pescoço de Elenice, que, segundo ele, tem doença na coluna.

“Desde que sentamos no avião, ele começou a reclamar comigo porque reclinei a poltrona e ficou pressionando minhas costas com o joelho. Quando minha mulher recostou a poltrona, o copo dele caiu e ele a agrediu. Depois levantou e começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros”, diz Martini.

Elenice, segundo a Varig, notificou o episódio à tripulação, que acalmou Belsky. “Ela foi imobilizada ainda no avião, porque não conseguia se mexer”, diz Martini.

Na chegada ao Rio, às 19 horas, Elenice foi atendida no aeroporto e depois levada ao hospital Barra D’Or (zona oeste), onde foi liberada com o pescoço imobilizado.

O francês prestou depoimento e foi liberado. A PF não divulgou o teor do depoimento. Ele foi indiciado por suposta prática de lesão corporal leve, com pena de três meses a um ano de detenção.

Segundo a PF, por ser considerado “delito de menor potencial ofensivo”, nada impede Belsky, que veio ao Brasil a passeio com sua mulher, de retornar à França.

Seu nome constará do sistema da PF. Se condenado, pode ser proibido de voltar ao Brasil (FSP – 14.8.2002).

A propósito, bem dizia Mark Twain: “Nada precisa tanto de reformas quanto os hábitos dos outros”.

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