Coisas de brasileiros

Desde o início de nossa colonização, que data de 500 anos, o brasileiro acostumou-se a rir, ridicularizar e debochar dos portugueses, nossos colonizadores, tachando-os de boçais, burros, atrasados, incapazes de compreenderem as coisas.

Fomos criados ouvindo piadas “do português”, nas quais evidenciava-se um certo sentimento de desprezo às nossas origens lusitanas. Versos os mais imorais possível eram atribuídos a Bocage. Não se respeitava sequer a genialidade de Camões.

Enquanto isso os portugueses exportavam para cá navios e mais navios de loucos, prostitutas, doentes e criminosos de toda espécie, rotulados simplesmente de “degredados”. Limpavam seus prostíbulos, hospícios, hospitais e cadeias às custas deste Brasil brasileiro. E nós, por outro lado, exportávamos, para lá, toneladas e mais toneladas de ouro, diamantes e outras pedras preciosas.

Um pesquisador norte-americano calculou, há bem pouco tempo, que Portugal deve ter carregado do nosso País, na época da colonização, cerca de 2.500 toneladas de ouro, 150 mil toneladas de prata e três milhões de quilates de diamantes, equivalentes, hoje, a aproximadamente um trilhão de dólares.

Mesmo após a independência tivemos que pagar dois milhões de libras esterlinas a Portugal, quantia que corresponderia, na época, ao preço de 40 milhões de sacas de café.

Durante a primeira e a segunda guerras mundiais Portugal manteve-se neutro. Não se envolveu em conflito algum. Tampouco nas guerras napoleônicas.

Enquanto o Brasil se intrometia nos conflitos da Europa, mandando tropas e matérias primas abundantes (que nunca lhe foram pagas), nossos irmãos portugueses ficavam quietos e tranquilos, negociando com todas as partes que se digladiavam.

Infelizmente parece que nestes longos quinhentos anos que se passaram, pouco ou nada aprendemos.

Se não, vejamos:

Nossa Constituição Federal dá aos portugueses com residência permanente no País, “os direitos inerentes ao brasileiro nato” (art. 12, II, § 1º). Ressalva, entretanto, a exigência de reciprocidade, ou seja, que o mesmo ocorra lá.

Acontece que, se nós, os “inteligentes”, oferecemos aos portugueses que para cá vêm, tudo aquilo a que têm direito, na forma da Lei, eles, lá, os “burros”, tratam os brasileiros que para lá vão, a coices e pontapés.

O que se passa com os dentistas brasileiros que se deram ao luxo de irem para Portugal, não precisa sequer ser comentado nem ressaltado, porque está na memória de todos. E constantemente brasileiros que desembarcam em Portugal, após serem presos, agredidos e submetidos aos maiores vexames, são sumariamente despachados de volta.

Ainda bem recentemente um rapaz aqui do Espírito Santo que saltou em Portugal, em trânsito para a Espanha, muito embora tivesse dinheiro no bolso, acabou trancafiado numa cadeia, onde além de violências inúmeras, passou até fome e sede – não lhe davam comida nem água. Sua mãe, uma advogada, telefonou várias vezes para as autoridades portuguesas dizendo de quem se tratava, mas o máximo que conseguiu foi que jogassem seu filho, algemado, num avião, de volta para o Brasil.

E no entanto quando a Polícia Federal só e tão somente negou o ingresso a portugueses que desembarcavam no Brasil portando documentos irregulares, o Embaixador do Brasil em Portugal, ao tomar conhecimento do incidente, foi rapidamente procurá-los, pedir-lhes desculpas e dar-lhes passagem para retornarem ao nosso País, onde foram recebidos com as honras de estilo.

Nesses festejos comemorativos dos nossos quinhentos anos de colonização, cremos que está bem na hora de resgatarmos a imagem e glória portucalenses.

Basta dizer, como se tantas outras razões não bastassem, que o Brasil, há bem pouco tempo, entendeu de se desfazer de suas empresas estatais, para, segundo alardeavam os teóricos das privatizações, “fazer caixa”. Pois bem, segundo consta, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social logo após o leilão emprestou aos “compradores” uma soma, mais ou menos, de 26 bilhões de reais. Ou seja: o Brasil emprestou dinheiro para que comprassem seu patrimônio. Seria o mesmo que um cidadão emprestasse dinheiro para que alguém comprasse sua casa. Ou, como se diz na linguagem popular, “coisa de português”.

Ao tomarem conhecimento dessa espécie de “privatização”, os portugueses devem cair às gargalhadas, comentando com seus compatriotas: “você sabe da última do brasileiro?”

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