Da Amazônia

Desde o início da nossa colonização diversos países têm tentado nos tomar a Amazônia, ora pela força, ora por persuasão, ambicionando avidamente aquele vasto território, onde já foram descobertas imensas jazidas minerais, e onde se encontrariam, ocultos e inexplorados, recursos em dimensões incalculáveis.

Já no início do século, Rui Barbosa denunciava uma trama existente entre a Bolívia e os Estados Unidos, mediante a qual a Bolívia, com a garantia do Exército norte-americano, reivindicaria como seu o atual território do Acre, e depois receberia 40 milhões de dólares para transferí-lo aos Estados Unidos.

Acrescenta que, se a notícia fosse verdadeira, veríamos “a cunha americana cravada no coração da América do Sul, no seio do Brasil”. E: “Mais cedo ou mais tarde, pois, se não for agora, teremos provavelmente de assistir à americanização do Acre; e quando uma das partes receber a presa, a outra o preço, ao governo brasileiro só restará consumar o que já se inicia: atar as mãos ao Amazonas, tapar a boca à imprensa e mandar a armada brasileira fazer guarda à nossa desintegração territorial, ao exército brasileiro bater-se pela mutilação da pátria como em 1888 quiseram que ele se batesse pelo cativeiro”.

Mas a história não fica aí. Vai mais longe.

A partir de 1964 iniciou-se uma grande campanha, a nível de Europa e Estados Unidos, pela “internacionalização da Amazônia”. Passaram a divulgar, tanto aqui como no exterior, que a Amazônia é patrimônio da humanidade; que ali estão as maiores reservas florestais do mundo; que ela seria, podia-se dizer, verdadeiros “pulmões do mundo”; que o Brasil não estava se mostrando capaz de gerir e administrar tantas e tão formidáveis riquezas; que constituía clamorosa injustiça da História, ficarem bens tão valiosos nas mãos de uma única nação, que ainda por cima não zelava por sua preservação.

Essas são idéias que vêm sendo divulgadas permanentemente, ora de maneira direta, ora de forma sutil e subliminar. Insiste-se em colocar nosso País no papel de destruidor e desbaratador de riquezas que lhe foram confiadas por um desses azares do Destino, e que não vem se mostrando à altura da missão recebida.

No dorso de tais comentários, lemos recentemente na revista “Isto É” a notícia que estão sendo treinados soldados do Exército, nos Estados Unidos, preparando-se para uma expedição à Amazônia, a fim de protegerem a floresta. A reportagem cita o local dos treinamentos e menciona, ainda, que se trataria dum “Batalhão Florestal”.

Dentro desse mesmo contexto, numa viagem à Europa há alguns meses, já encontramos mapas da América do Sul constando um País designado “Amazônia”, e, em baixo, o “Brasil” – como se Amazônia e Brasil fossem dois países diferentes.

Se naquela época, graças à inteligência e habilidade do Barão do Rio Branco, conseguimos salvar o Acre, a esta altura não se pode ter tanta certeza com relação à Amazônia toda. Agora existe uma consciência formada, a nível nacional e internacional, da importância daquele território para o Mundo, e da inaptidão dos brasileiros para administrá-lo. Além disso, aquela imensa área acha-se cortada e recortada por “nações indígenas”, que, dispondo de extensas áreas territoriais, gozam de plena independência, e aparentemente até mesmo de soberania. Acrescente-se a isso que a Cia. Vale do Rio Doce, que poderia ser definida como um Estado dentro do Estado, pelo seu gigantesco poderio econômico e pelos grandes espaços que ocupa na Amazônia, saiu do controle estatal, não se podendo sequer imaginar a quem pertence ou virá a pertencer, pois, como o próprio nome diz, é uma “sociedade anônima”, cujas ações são facilmente transferíveis de mão em mão.

Tudo isso nos faz lembrar as magistrais palavras de Rui, quando, em sua época, bradava contra o indiferentismo do brasileiro ante os grandes problemas nacionais: “Solta Pedro I o grito do Ipiranga. E o caboclo, em cócoras. Vem, com o 13 de maio, a libertação dos escravos; e o caboclo, de cócoras. Derriba o 15 de novembro um trono, erguendo uma república; e o caboclo, acocorado. No cenário da revolta, entre Floriano, Custódio e Gumercindo, se joga a sorte do país, esmagado quatro anos por “Incitatus”; e o caboclo ainda com os joelhos à boca. A cada um desses baques, a cada um desses estrondos, soergue o torso, espia, coça a cabeça, “magina”, mas volta à modorra e não dá pelo resto”.

Essa explosão de desabafo do genial baiano vem-nos à mente quando observamos o que se passa no nosso País com relação à Amazônia.

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