Da crise

Lembro-me muito bem que nos idos de 1970/1980 levantou-se grande debate no nosso País em torno da construção da fabulosa usina hidrelétrica de Itaipu e da instalação de 8 usinas nucleares, conforme projetos apresentados pelo Governo Federal.

Foi um alvoroço tremendo. Políticos da maior expressão, apoiados por todas as forças oposicionistas, criticaram violentamente os objetivos pretendidos, taxando-os de crime nefando contra a natureza e contra os interesses públicos, porque, conforme alardeavam, o Brasil possuía energia de sobra, que daria para atender todas as necessidades nacionais nos próximos séculos.

Houve reuniões de partidos políticos, de órgãos dos mais abalizados da sociedade civil, em que “técnicos” renomados falavam e proclamavam, alto e bom tom, sobre a desnecessidade absoluta de novas fontes de energia para o atendimento da nossa demanda.

Ardorosamente diziam que Itaipu era obra faraônica, megalomaníaca, e usinas nucleares mais ainda.

No auge da polêmica, o Ministro da Energia na época foi à televisão e mostrou um gráfico contendo duas curvas – a do consumo e a da geração. Explicou que essas duas curvas se encontrariam no ano 2.000, o que significava que no ano 2.000 iria faltar energia no Brasil, particularmente em suas regiões mais industrializadas (sul e sudeste).

Exibiu um mapa demonstrando, por “a” mais “b” que já se achava praticamente esgotado o potencial hidrelétrico das regiões sul e sudeste. Itaipu, assim, quase que fechava uma era.

Sustentou o Ministro serem inviáveis longas linhas de transmissão que conduzissem energia elétrica do norte até o sul/sudeste. Isto porque as perdas por dissipação seriam imensas. Exemplificou com o caso de Itaipu, cujas linhas de transmissão passam por regiões frias, portanto corrente contínua (fatores altamente positivos, pois), e, ainda assim, perdem o equivalente à produção de uma usina de porte médio.

Ponderou o Ministro que ante as trágicas consequências que um colapso de energia elétrica produziria no Brasil, particularmente no parque industrial do sudeste, a solução possível seria a implementação de usinas nucleares (estas mesmas que, literalmente abandonadas há anos, agora o Governo quer implementar).

Comentou que reconhecia não ser esta a melhor solução, mas apenas uma solução possível, já adotada pelo mundo afora – mais de trinta por cento da energia elétrica da Europa tem origem nuclear, a terceira maior fonte de geração do planeta.

Após apresentar gráficos, números e documentos, concluiu revelando serem “ecologicamente incorretas” as hidrelétricas, pois atrás de cada uma delas há um lago artificial, equivalendo, no Brasil, a cerca de um pequeno país submerso.

Passaram-se vinte anos. Agora, ao ver anunciar-se a procissão de novos desempregados, famintos e miseráveis, vítimas da falta de energia elétrica, vem-nos à memória a imagem daquele expositor e dos seus poucos seguidores, criticados e expostos à execração pública.

Acontece que aqueles que demagogicamente se levantavam contra o prosseguimento do programa energético brasileiro implantado pelos governos militares, acabaram se elegendo Deputados, Senadores, Governadores e até Presidentes da República. Tomaram conta do País.

Sem um pingo de patriotismo convenceram e entusiasmaram as multidões em torno de suas idéias, levando-nos ao tormentoso período que estamos atravessando.

Por incrível que pareça os responsáveis causadores da tragédia, em vez de reconhecrem suas próprias culpas e responsabilidades por se oporem tão radicalmente à adoção de medidas imprescindíveis e inadiáveis, simplesmente anunciadas há 20 ou 30 anos, sem-cerimoniosamente lançam a culpa de tudo sobre São Pedro.

Nesta hora e neste triste momento em que vemos bairros, cidades e Municípios às escuras, enquanto a burguesia desliga seus eletrodomésticos e aparelhos de ar condicionado, lembramo-nos desta terrível controvérsia da época, e, ao mesmo tempo, de Albert Einstein, quando falava de “duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens”. E, acrescentava mais ainda: “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.

A prova disso tudo está na situação catastrófica em que fomos lançados, porque sem energia não há progresso, e muito menos desenvolvimento, mas tão só e apenasmente pobreza, miséria e estagnação.

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