Do nacionalismo

Constantemente lemos na imprensa comentários de políticos, jornalistas e eruditos em geral, acerca do fim do nacionalismo, apontando, neste início de século, o vitorioso surgimento daquilo que resolveram designar como “globalização”.

Os chamados “nacionalistas” são simplesmente caracterizados como “espécie em extinção”, “mastodontes”, fósseis, ou, na melhor das hipóteses, reacionários empedernidos, ultrapassados pelos acontecimentos, e, naturalmente, pelo caminhar da História.

Tais considerações depreciativas e debochadas aos sentimentos nacionalistas, tentando ridicularizar e desanimar aqueles que lutam pela preservação do nosso patrimônio cultural, social e econômico, não se mostram, entretanto, suficientemente fundamentadas na realidade, e tampouco resistem a uma análise mais cuidadosa dos fatos contemporâneos.

Antes de mais nada não existe no mundo povo mais nacionalista do que o norte-americano. Nos Estados Unidos nota-se, a toda evidência, uma paixão insopitável pelo seu passado, seus grandes homens, suas riquezas e pelo chamado “american way of life” (modo de vida americano). Cheios de orgulho, sonham com a implantação, em todo mundo, do “american dream” (sonho americano).

Conforme dizem os franceses, os americanos criaram a chamada civilização “diet coke”: “queremos açúcar sem calorias, manteiga sem gordura, nascimento sem dores do parto, morrer sem sofrer. Então, por que não a guerra sem morrer?”

Realmente, analisando com cuidado, qualquer um verificará, sem muita dificuldade, que nunca desabrochou no mundo um sentimento nacionalista tão forte e tão explosivo como após a dissolução do Império Soviético, nos idos de 1990. Basta dizer que dali surgiram inúmeros novos países, cujos povos conservaram seus sentimentos e suas origens durante todos aqueles anos de escravidão: Ucrânia, Armênia, Azerbadijão, Estônia, Letônia, Lituânia, República Checa, Eslováquia, etc. Ainda agora, contemplamos a luta heróica do povo checheno, querendo dar independência à sua Pátria, e, desgraçadamente, sendo destroçado e dizimado ante a indiferença das chamadas “democracias cristãs”.

A Iugoslávia fracionou-se, porque os croatas nunca se sentiram iugoslavos, nem tampouco os sérvios, e apenas aguardavam uma oportunidade para criarem suas próprias pátrias. Da mesma forma os muçulmanos que fizeram surgir a Bósnia Herzegovina. E o que vem se passando em Kosovo, até agora, não obstante a intervenção norte-americana e os “bombardeios humanitários”, não é nada mais nada menos do que uma manifestação nacionalista – povos da mesma origem étnica e cultural lutam para terem sua própria pátria, com seu próprio governo, ou seja, querem ter o poder de dirigirem seus próprios destinos.

Efetivamente, cada povo luta pelo direito de se autodeterminar, segundo seu passado, sua experiência, sua “alma coletiva”, ou aquilo que os filósofos alemães definem como “nationalgeist” (espírito nacional).

A História Universal mostra sobejamente que todos os grandes conquistadores que, vitoriosos, quiseram impor sua cultura aos vencidos, apenas sufocaram temporariamente sentimentos latentes e imorredouros. Temos aí os exemplos do Império de Alexandre, do Império Romano, do Império britânico, do Império austro-húngaro, e, finalmente, do Império Soviético. Os povos, feridos e humilhados, na primeira oportunidade que se lhes deparou constituiram suas Pátrias. E não existe caso mais patente e notável do que o do povo judeu, que ressurgiu das cinzas, formando o Estado de Israel, onde se impõe ao respeito do mundo. E das nações da Ásia, África e Oriente Médio.

E os conflitos da política internacional atual são todos de origem eminentemente nacionalista. Lá estão Paquistão e Índia se digladiando por causa de Cachemira, no eterno conflito étnico e religioso entre indianos e muçulmanos.

Temos, também, o extraordinário exemplo dos alemães – derrotados na segunda guerra mundial, tiveram seu país dividido em quatro: uma parte ficou com os Estados Unidos, uma com a Inglaterra, uma com a França, e, finalmente, uma outra grande parte com a Rússia. Lutando, trabalhando e defendendo ardorosamente seu passado e suas origens, renasceu, e hoje, reunificada, mostra-se novamente como uma das grandes potências contemporâneas.

Os turcos chegaram a matar milhões de armênios – levavam as multidões, de caminhão, para o meio do deserto árido, e largavam-nas lá para morrerem de calor, de sede e de fome. E a Armênia reparece. O mesmo se passou e vem ocorrendo com os curdos.

Enfim, parece que os únicos que acreditam no dito fenômeno da “desnacionalização” somos nós. Aqui, além de tantas quinquilharias e supérfluos, já se importa até mesmo a festa do “halloween”, ou, “dia das bruxas”, que faz parte da tradição norte-americana.

Enviar por e-mail Imprimir