Fábulas

Um dos mais famosos e brilhantes contadores de história do mundo foi, sem dúvida alguma, Jean de La Fontaine, nascido na França, em 1621 e morto em 1695. Escreveu oito livros de “Fábulas”, sendo que os seis primeiros apareceram em 1668 e os outros dois em 1678 e 1694.

Muito embora atualmente esteja quase que totalmente esquecido, não se pode ignorar que durante muitos séculos tanto ele, como Esopo, encantaram as crianças, não apenas da França, mas de todos os países, inclusive do Brasil, que se deliciavam com suas histórias, ainda no curso primário.

Suas fábulas foram traduzidas para inúmeras línguas, sendo lidas tanto por jovens como por adultos, em jornais, livros e revistas, chamando a atenção pela sabedoria dos seus ensinamentos. Têm um estilo simples, mas são, sobretudo, realistas e fantásticas. Abordam as coisas da vida de maneira facilmente entendida por qualquer um.

Seu pai era um funcionário público encarregado de vigiar florestas e animais, cargo que ocupou mais tarde, substituindo-o, razão por que em todas suas fábulas nota-se o amor aos animais e às coisas da natureza, fazendo observações interessantíssimas.

Conta histórias do tempo “em que os bichos falavam”, mas realçando nitidamente que, ao contrário dos homens em geral, só falavam a verdade. Relembrando Shakespeare, quando dizia que “neste mundo só quem fala a verdade são os jovens e os loucos”, acrescentava: “e os animais irracionais”.

Chama a atenção pela simplicidade da linguagem, pela agudeza do seu raciocínio e pela clareza de suas exposições, análises e conclusões.

Mas, além de contador de histórias, La Fontaine revelou-se, também, um filósofo, investigando com inteligência e profundidade a personalidade humana, suas grandezas e pequenezas, tirando conclusões sobre esta vida e o destino do homem na terra.

Possuía um temperamente fácil de fazer e conservar amigos, o que o levou a ser apoiado e incentivado, até chegar a morar em Paris, onde passou a receber uma pensão do Governo, abandonando sua pretensão inicial de ser Padre, e dedicando-se exclusivamente à atividade intelectual.

Dentre suas fábulas, gostaríamos de relembrar uma delas, que consideramos muito oportuna, e que conta mais ou menos o seguinte:

Um cordeiro matava a sede na água corrente dum rio. Surge um lobo em jejum, que procurava aventura e que a fome levava a esses lugares. “O que te torna tão atrevido para sujar minha água?” Diz o animal, cheio de raiva: “tu serás punido por tua temeridade”.

“Senhor”, responde o cordeiro, “que Vossa Majestade não fique zangado; mas antes que considere que vou matando minha sede nesta correnteza, estou a mais de vinte passos abaixo de Vossa Majestade, e, por conseguinte, de modo algum posso sujar a água que Vossa Majestade bebe”.

“Tu a sujas”, repete o lobo, “e sei que falaste mal de mim no ano passado”.

E diz o cordeiro: “Como poderia ter falado mal de Vossa Majestade no ano passado, se eu ainda não era nascido? Eu ainda estava no ventre de minha mãe”.

Responde o lobo: “Se não foi tu, então foi teu irmão”.

“Mas Majestade, eu não tenho irmão”, diz o cordeiro.

“Então foi algum dos teus parentes” – replica o lobo – “porque vós não gostais de mim: nem vós, nem vossos pastores, nem vossos cães, e por isso é preciso que eu me vingue”.

E dizendo isso o lobo salta em cima do cordeiro, mata-o e come-o, sem qualquer outro processo.

Donde se vê, inegavelmente, que “a razão do mais forte é sempre a melhor”. E sempre vemos isso comprovado a toda hora: conclui La Fontaine.

Essa história mostra-se de uma atualidade surpreendente, e nos vem à memória quando vemos o que está se passando nesse interminável conflito entre Estados Unidos e Iraque.

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