Problemas mundiais

A Revista Time, dos Estados Unidos, publicou em sua edição de 15 de março último (página 9), que no Brasil só dois por cento dos crimes violentos resultam em prisão.

E, enquanto isso, o número de assassinatos em Nova York diminui, enfatizando que “nos últimos quatro anos Nova York deixou de ser a capital mundial do crime para tornar-se a cidade mais segura dos Estados Unidos”.

Em depoimento na Assembléia Legislativa, o Prefeito Luis Paulo Vellozo Lucas declara-se preocupado com o elevado índice de homicídios em Vitória, sua ascensão incontrolável, e diz acreditar que cinquenta por cento dos casos de assassinatos no município são extermínios: “não se trata de briga em bar, desavenças pessoais ou em família”.

Trata-se, como se vê, de problema nacional gravíssimo, que vem preocupando o mundo todo. As notícias sobre o escandaloso índice de criminalidade no Brasil – e, em particular, no Espírito Santo, têm saído na imprensa de todos os países, com vultosos prejuízos econômicos para todos nós. Isso porque afugenta turistas (esvaziando nossos hotéis), afasta investidores – pois o capital é sobretudo medroso e covarde, só se dirigindo para onde encontre segurança – e impede o desenvolvimento.

Vejamos, entretanto, o que se tem feito para melhorar esse quadro, ou pelo menos atenuar a dramática situação. Três fatos, amplamente divulgados pela Imprensa, dão-nos uma idéia a respeito.

  1. Dezenas de policiais, armados até os dentes, com metralhadoras e granadas à mão, prenderam Mister M, o artista que comparecia na televisão e espetáculos teatrais mostrando como são feitas as mágicas exibidas em shows e espetáculos circenses.

Carregado para a Delegacia, sob rumorosa publicidade, foi acusado de “violação de segredo profissional” (Código Penal, artigo 154). Como a conduta dele jamais se enquadraria no tipo, acabou solto, logo após prestar depoimento.

De qualquer maneira, depois de sofrer tal humilhação, arrumou as malas e sumiu por esse mundo afora.

  1. Os jornais publicaram em primeira página a figura de um delegado, de espingarda à mão, apreendendo discos e CDs piratas, e caregando para a cadeia cerca de 132 depositários e possuidores. Defendia, com isso, os direitos autorais de inúmeros compositores estrangeiros, muito ao contrário do que faz a Polícia dos outros países, que nunca resguardou direitos dos autores brasileiros. E até mesmo o “bina”, amplamente utilizado nos Estados Unidos, nunca rendeu um dólar sequer ao seu inventor, brasileiro, que vive mergulhado na maior pobreza. Dizem os próprios jornais americanos que se o criador desse identificador de chamadas telefônicas recebesse direitos autorais nos Estados Unidos, estaria mais rico do que o Bill Gates, dono da Microsoft.
  1. Aqui em Vitória, terra abençoada pela Virgem da Penha, foram presos cinco modestos e humildes pescadores, porque estavam pegando caranguejos. Estes, ao contrário dos homicidas, estupradores e agressores em geral, não tinham direito à fiança. Cometeram crime inafiançável.

Como se nota, se vê, se observa e se constata facilmente, aqui nosso sistema de segurança não concentra sua preocupação máxima na preservação da vida humana.

Os grupos de extermínio a que alude o eminente Prefeito Luis Paulo não são meros “justiceiros” ou “exterminadores”. São pistoleiros de aluguel. Assim, por exemplo, se um indivíduo é desfeiteado por outro, basta pagar determinada quantia e será vingado por um desses profissionais do crime. Por qualquer 500 ou mil reais tira-se a vida de gregos e troianos. Mata-se de manhã, de tarde, de noite, nos dias da semana, aos sábados, domingos, feriados, às escondidas ou às vistas de todo mundo. E após o crime “ninguém viu”.

Vive-se sob o regime do terror. Pois, como observava Millor Fernandes, “quando disserem que o crime não compensa, você tem de lembrar que isso é porque, quando compensa, não é crime”. Não é de espantar, portanto, essa espantosa suposta “criminalidade” no nosso Estado e no nosso País.

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