Projetos ambiciosos

Há muitos anos que escritores, pensadores e intelectuais vêm clamando pela necessidade de criação de um modelo brasileiro, próprio, autônomo, indígena, para dirigir e orientar os nossos rumos, independentemente de fórmulas estrangeiras, importadas por mentalidades esnobes, e que, por sinal, só têm ocasionado prejuízos ao país.

Por comodismo, para não nos darmos ao trabalho de pensar, fomos buscar nos Estados Unidos, França, Alemanha, e em quase todos os outros povos do mundo, os paradigmas para as nossas universidades, para a nossa política econômica, para a exploração de nossas riquezas.

Como conseqüência disso, só recentemente se principiou a incrementar a criação de escolas polivalentes, cursos de formação técnica, faculdades de administração de empresa e de administração pública, enfim, todas essas “novidades” que vêm apontando a consciência nacional o quanto estávamos mergulhados no atraso e no obscurantismo.

Aos jovens que iam trabalhar na lavoura, no comércio, na indústria ou nas artes, ensinavam as declinações latinas, contavam a história do meteorito de Bendengó e proclamavam as maravilhas da corte de Luís 14.

A mocidade terminava o clássico ou o científico, queria arranjar emprego para se tornar auto-suficiente, mas não sabia taquigrafia, nem datilografia, nunca tinha ouvido falar em fatura ou duplicata, tampouco sabia escrever uma carta comercial, porque no colégio só lhe haviam ensinado a fazer descrições sobre as paisagens dos Alpes ou da Normandia.

Muitos estudantes ficaram impossibilitados de ingressar nas Faculdades, reprovando-se nos vestibulares, por ignorarem fatos ligados à Batalha do Peloponeso, ou por não recordarem que o nome de Moliére era Jean-Baptiste Poquelin.

Os países que nos serviram de exemplo para tantos programas esdrúxulos e prosaicos, que estão guardados ao longo dos nossos registros históricos, construíram um império econômico e industrial baseado numa matéria-prima de que não dispunham: o petróleo. E o Brasil, como não poderia deixar de ser, foi atrás, no mesmo ritmo, criando uma indústria automobilística que se transformou numa espécie de orgulho nacional.

Houve uma época em que próprio Governo se mobilizou para ajudar a vender carros. As Caixas Econômicas Federais e os Bancos estatais transformaram-se em agências de automóveis, comprando, trocando, vendendo a longo prazo e muitas das vezes recebendo os veículos de volta, por falta de pagamento das prestações, e revendendo-os a terceiros.

Tudo isso em detrimento da agricultura, setor fundamental para o nosso desenvolvimento, e onde, infelizmente, sempre imperou o atraso e a estagnação. Os grandes programas estratégicos sempre tiveram em mira a criação de novos Bancos, a fusão de empresas, a disciplina das letras de câmbio e a construção de cidades, esquecendo-se de que todas as bocas que se encontram em serviços burocráticos requerem a existência de um número equivalente de brasileiros no interior, produzindo alimentos.

Inúmeros países ficam cobertos pela neve durante quatro, cinco, seis meses por ano. Só conseguem uma safra agrícola anual. Aqui, não. Pela alternação de regiões poderíamos ter safras o ano todo. No entanto, sofremos problemas de abastecimento. A esta altura do campeonato estamos importando feijão, arroz, cebola, trigo e outros produtos agrícolas, o que, aliás, não deixa de ser espantoso, em se tratando de um país “eminentemente agrícola”, onde, segundo o famoso repórter das “coisas dos Brasis, em se plantando tudo dá”. E, se não forem adotadas providências enérgicas, não demorará muito o tempo em que viremos a consumir alface e cenoura do Japão.

Ora, impõe-se um ligeiro raciocínio: quem nos impingiu esse malfadado destino? Não resta dúvida que foram os “técnicos” importados e pagos a peso de ouro, que viviam nos gabinetes dos nossos Ministérios escrevendo pareceres confusos, inexplicáveis e inexplicados, sendo muitos deles em inglês, alemão ou latim.

Em todo caso, como se diz que “Deus é brasileiro”, vamos confiar e esperar.

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