Perdas valiosas

Recentemente faleceram três das mais queridas figuras da sociedade capixaba: José Moysés, Darcy Pacheco Queiroz e Davi Teixeira Filho.

José Moysés era médico; Darcy Pacheco Queiroz era Militar, General reformado do Exército; e Davi Teixeira, dentista.

Como se vê, cada um dedicou sua vida a diferentes ramos de atividade.

Possuíam, no entanto, um ponto em comum: todos os três eram pessoas sempre bem humoradas, alegres, expansivas, queridas por todos. Viviam bem com a vida. Encontrar com qualquer um deles de manhã cedo, era garantia de um dia feliz.

Naqueles longínquos tempos já dizia Plínio que “não se deve levar muito a sério as coisas da vida, porque a vida não é coisa séria”.

Nossos saudosos amigos parece que entendiam e aplicavam muito bem essa concepção filosófica: não guardavam rancores, não perseguiam nem faziam maldades a quem quer que fosse, recebiam a todos com um sorriso nos lábios e tinham um coração maravilhoso. Independentemente de suas atividades profissionais, deixaram-nos magníficos exemplos, dignos de serem imitados. Amavam fazer o bem.

Vale à pena relembrar e ressaltar essas personalidades, especialmente numa época como a que atravessamos, em que a sociedade sofre sob o peso de pavorosa crise moral.

Lemos e vemos o registro, a toda hora, de políticos, magistrados, homens de Poder e de autoridade, acusados e denunciados por crimes gravíssimos, que chocam a opinião pública.

A ação do mau exemplo é tão forte, tão rápida, a comunicação do vício pela imitação é tão terrível, que os moralistas a assemelham à comunicação duma doença e lhe dão o nome de “contágio moral”.

Já está mais do que provado que o contágio do vício assemelha-se ao contágio duma doença.

Por isso os educadores advertem que é preciso cuidar bem, para que os jovens não freqüentem as más companhias, pois correrão o risco de adquirirem alguma mancha do contágio de sua maldade.

Advertia Plutarco, o grande filósofo e educador, que “os homens de boa natureza se perdem ao freqüentarem a companhia de maus, e que a maldade é contagiosa e passa dum a outro, não mais nem menos como o faz uma doença pestilencial, infeccionando algumas vezes almas virtuosas”.

Na conferência sobre a reforma penitenciária, havida na Alemanha, nos idos de 1977, consta a resposta picante dum sueco a quem lhe perguntavam se a educação dos menores recolhidos na rua não era muito custosa: “Sim, respondeu, é custosa, mas não cara; nós, suecos, não somos bastante ricos para deixar uma criança crescer na ignorância, na miséria e no crime, para tornar-se um flagelo para nossa sociedade, assim como uma vergonha para ela mesma”.

Efetivamente, nada é tão contagioso como o exemplo, e não fazemos jamais grandes bens, nem grandes males, que não produzam semelhantes. Imitamos as boas ações por emulação, e as más, pela malignidade de nossa natureza, que a vergonha mantém prisioneira e que o exemplo põe em liberdade.

Sêneca assinala com a mesma força o contágio dos maus exemplos: “Se tu queres te privares de teus vícios, fuja o mais longe possível dos exemplos viciosos. O avarento, o sedutor, o homem cruel, o preparador de fraudes, são contagiosos só por sua apresentação a ti. O perigo de conviver com os maus assemelha-se ao perigo que apresenta uma doença contagiosa: há como um ar “contagioso” escondido no espírito dos maus, que se comunica da maneira mais imperceptível e se transmitem àqueles que deles aproximam”.

E conclui Seneca numa de suas famosas epístolas: “O caminho da sabedoria é longo através de preceitos, breve e eficaz através de exemplos”.

Mais ainda, lecionava com sabedoria o Padre Manuel Bernardes que “não há modo de mandar mais forte e suave que o exemplo: persuade sem retórica, impele sem violência, convence sem debate, todas as dúvidas desata e corta caladamente todas as desculpas. Pelo contrário, fazer uma coisa e mandar ou aconselhar outra é querer endireitar a sombra da vara torcida”.

José Moysés, Darcy Pacheco Queiroz e David Teixeira Filho nos deixaram, sem dúvida alguma, uma grande herança, que, temos certeza, será aproveitada, ainda, por muitas gerações: o exemplo de vida.

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